São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Iugoslávia é terra em transe em "Bela Aldeia"

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A declaração é dita em tom patético num túnel inacabado, em que um grupo de sérvios sofre um paciente e sádico cerco movido por uma milícia muçulmana, no auge da guerra da Bósnia, em 1994.
A interrogação lançada por "Bela Aldeia, Bela Chama", longa-metragem que estréia hoje, é exatamente essa: como um povo que já foi tão civilizado veio parar na barbárie atual?
Túnel
Mas o túnel, como a forçada unificação, parou no meio do caminho e se transformou numa caverna misteriosa, em que os pequenos Milan e Halil temiam encontrar monstros e fantasmas.
Anos depois, eles se reencontram no túnel, agora como inimigos.
Contado dessa maneira, o entrecho soa esquemático e sentimental, lembrando um pouco o argumento do filme "A Noite de São Lourenço", realizado pelos irmãos Taviani.
Mas no lugar do humanismo cristão dos Taviani, "Bela Aldeia, Bela Chama" vibra de ferocidade e humor negro.
Refinado e vulgar
Com uma narração descontínua, cheia de flash-backs que não pedem licença para invadir a tela, uma trilha sonora elaboradíssima e uma montagem magistral, "Bela Aldeia, Bela Chama" parece às vezes um videoclipe cruel.
A sensação de energia, de força física em ação, anula até os clichês que aparecem aqui e ali no longa-metragem.
O comunismo, os sonhos de juventude, as drogas, o consumo, a mídia -o diretor Srdjan Dragojevic põe tudo numa máquina de triturar e devolve outra coisa, difícil de definir e de digerir.
É um filme selvagem, inteligente, engraçado, terrível, refinado, vulgar.
Venceu a última Mostra de Cinema de São Paulo. Vá e veja.

Filme: Bela Aldeia, Bela Chama
Produção: Sérvia, 1996
Direção: Srdjan Dragojevic
Com: Dragan Bjelogrlic, Nikola Kojo, Nikola Pejakovic
Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema - sala 3

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