São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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País busca dinheiro dos EUA para sobreviver

JEAN-MICHEL CAROIT
DO "LE MONDE", EM HAVANA

Cuba não é a China, afirma Carlos Lage, vice-presidente do Conselho de Estado. O ritmo das reformas é mais lento, contido pelas hesitações do grupo dirigente e pela hostilidade dos EUA.
A relação conflituosa entre Washington e Havana não deixa de ser paradoxal. A influente comunidade cubana exilada na Flórida, que pressiona por um reforço do embargo econômico, é a maior fornecedora de divisas da ilha do Caribe.
Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), da ONU, as remessas dos exilados chegaram a US$ 800 milhões em 1996, maiores do que a receita com o turismo.
Trinta anos após a morte do revolucionário Ernesto Che Guevara, a busca de dólares se tornou o principal mote da revolução.
Mas depois de uma vigorosa taxa de crescimento econômico de 7,8% no ano passado, a economia ficou mais lenta. A maior parte dos economistas independentes acha que a meta oficial de uma taxa de 4% não será alcançada em 1997.
A coexistência de uma economia em dólar e uma outra em pesos é o maior quebra-cabeça das autoridades. Aumenta cada vez mais a distância entre os detentores da moeda americana e a massa da população que sobrevive cada vez mais duramente com seus pesos.
"Com dois salários e a 'libreta' (o carnê de racionamento), uma família pode se alimentar em pesos durante 15 ou 20 dias. Depois, é preciso se virar", diz Arturo, um militante comunista com um salário de 260 pesos (cerca de US$ 15), um pouco superior à média (206 pesos). "Se virar" significa sair à caça de dólares. A maioria procura os shoppings, supermercados e butiques criados pelo Estado para recuperar divisas ou espera receber algo de parentes no exterior.
A caça às notas verdes criou o que um estrangeiro instalado em Havana chamou de "mercantilização excessiva do contato social". Prostituição, pequenas trapaças, tudo é válido para aliviar o visitante estrangeiro de suas divisas.
Os "indisciplinados sociais" denunciados pela imprensa oficial criaram assim uma forma de corrupção rasteira. A generosidade tradicional e a hospitalidade cubana foram substituídas por motivações interesseiras.
No Meliá Cohiba, um dos grandes hotéis de Havana, os empregados têm sempre uma segunda intenção que possibilita gorjetas fixadas pelo sindicato e pelos organismos do PC. "O crescimento de 1996 reforçou a inércia dos dirigentes. A interrupção do crescimento pode levar a uma reflexão sobre novas mudanças", diz o sociólogo Aurelio Alonso.
Nos últimos anos, a pressão das circunstâncias se mostrou um fator de transformação mais eficaz do que os debates do congresso do partido. Em 1991, o Quarto Congresso se recusou a legalizar os mercados livres dos trabalhadores do campo. Eles só perceberam a realidade bem mais tarde, durante a "crise dos balseros" do verão de 1994: um êxodo de mais de 30 mil cubanos em direção à Flórida.

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