São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997 |
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RESCALDO DA VERGONHA Só uma reação vigorosa dos eleitores nas votações de 1998 pode reduzir a tolerância vergonhosa com que certas autoridades tratam os suspeitos de malversar o dinheiro público. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara absolveu sumariamente três deputados acusados de vender votos pró-emenda da reeleição -sumariamente, ressalte-se, pois a comissão não tinha meios para promover uma investigação decente sobre o escândalo. No mesmo dia, os deputados estaduais de Santa Catarina não reuniram votos suficientes -dois terços da Assembléia- para aprovar o impeachment do governador Paulo Vieira (PMDB), réu confesso do delito constitucional de desviar para outras finalidades o dinheiro obtido para pagar precatórios. Como se não bastassem os ilícitos passados, o escândalo foi acrescido de novas imoralidades. Nos últimos meses, o governador de Santa Catarina loteou a administração estadual para ganhar o voto de deputados. O caso de Santa Catarina é mesmo de escárnio, pois o relatório da CPI do Senado atestou as irregularidades cometidas pelo governo do Estado. Com o fim do processo contra Vieira, teme-se agora que fique aberto o caminho da impunidade para outros mandatários que, segundo a CPI, infringiram a Constituição, fraudaram documentos e permitiram a apropriação de verba pública. As absolvições de anteontem, além de infamarem os Legislativos, são o ápice de um processo marcado pela omissão e conivência com outros escândalos. Afinal, não foram nem sequer investigados outros envolvidos com o mercado de votos, como por exemplo os governadores Orleir Cameli (PFL do Acre) e Amazonino Mendes (PFL do Amazonas), além do ministro Sérgio Motta (PSDB). Registre-se que o governo federal tem também sua parcela de responsabilidade, pois abafou a CPI capaz de investigar a venda de votos. O sucesso do governador Vieira e dos deputados suspeitos amesquinha e desmoraliza ainda mais toda a política. É bom lembrar que só pelas urnas se pode conseguir algum saneamento nos maus hábitos arraigados no sistema político brasileiro. Próximo Texto: CLINTON, SÓ UMA VISITA Índice |
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