São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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CLINTON, SÓ UMA VISITA

A chegada ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, ocorre num contexto de aumento na tensão entre os dois países.
Vem crescendo a lista de rusgas de lado a lado: dos comentários críticos sobre o Mercosul às restrições impostas a produtos brasileiros exportados para os EUA, passando mesmo pela série de deselegâncias, para dizer o mínimo, cometidas por diplomatas e membros do governo norte-americano contra o Brasil.
Na economia, o déficit comercial do Brasil com os EUA deve atingir em 1997 a cifra recorde de US$ 5 bilhões. Ou seja, o equivalente a cerca de metade de todo o desequilíbrio no comércio exterior brasileiro resulta de negócios com os Estados Unidos. O Brasil importava dos EUA apenas US$ 3 bilhões há dez anos. Em 97, as compras de produtos norte-americanos podem chegar a US$ 14 bilhões.
As exportações brasileiras para o mercado norte-americano, porém, enfrentam barreiras significativas. O suco de laranja, por exemplo, é tributado em 50% ao entrar nos EUA. Essa é a atitude norte-americana: proteger seus produtores, enquanto condena o protecionismo alheio.
O fato de as exportações brasileiras para os EUA terem crescido 24% nos últimos dez anos, enquanto as importações subiam 400%, não pode ser atribuído apenas às barreiras lá existentes. Mas essa realidade impede, do lado brasileiro, qualquer entusiasmo com propostas de maior liberalização das importações ou aceleração da integração continental.
Diante dessas pendências irritantes, a visita de Clinton não deve, ou talvez nem possa, ser mais do que inócua em termos de agenda econômica. Estarão presentes outros temas, como vendas de armas, combate ao tráfico de drogas, intercâmbio educacional e meio ambiente.
São temas densos e que justificam uma cooperação maior entre os dois países. Mas, se não há motivos para brigar, falta muito para que só a visita de Clinton tenha o dom de reduzir as tensões entre os EUA e o Brasil.

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