São Paulo, sábado, 11 de outubro de 1997
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Círio espera 1,5 milhão de pessoas no Pará

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O capitão fluvial da Marinha Mercante Rodolfo Fernandes, 43, realiza hoje um sonho de 23 anos: vai comandar pela primeira vez o barco que leva a imagem de Nossa Senhora à frente da romaria fluvial do Círio de Nazaré, em Belém.
A romaria fluvial marca a abertura da maior festa católica do país, cujo ponto alto é a procissão do Círio, amanhã. Cerca de 1,5 milhão de pessoas, segundo a Polícia Militar e a organização da festa, estarão na procissão em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da cidade. A festa acontece desde 1793, sempre no segundo domingo de outubro.
"Desde a escola da Marinha, aos 20 anos, sonhava em levar a Virgem. No sábado (hoje), às 4h, começo a realizar o sonho", disse ele.
Fernandes vai acordar cedo, para se preparar. Antes da última checagem no barco, esse paraense nascido em Belém quer vestir o uniforme de gala de comandante e ter alguns minutos para rezar.
"É muita emoção e responsabilidade. Preciso de um tempinho para conter a ansiedade e me concentrar no trajeto e na minha fé." A partir das 9h, o capitão ordena a saída do porto da vila de Icoaraci seguido por 400 barcos de todos os tamanhos, que levarão cerca de 30 mil pessoas.
O trajeto pela baía de Guajará, formada pelo rio Guamá -um dos afluentes direitos do rio Amazonas-, é de aproximadamente 20 quilômetros até o mercado do Ver-o-Peso, centro de Belém, e deve durar duas horas. "É muito gratificante. E a emoção aumenta porque não participei da festa no ano passado", afirma Fernandes, que estava a trabalho e só viu pela televisão.
Mas o pior, segundo o capitão, foi em 1986, quando estava no Equador. "Apenas reuni a tripulação e rezamos. É como passar o Natal ou a Páscoa longe da sua terra e da família." Capitão há 13 anos, ele já acompanhou, como auxiliar, quatro romarias fluviais e diz ter perdido a conta das procissões de que participou. A procissão é o maior evento e começa às 7h do domingo. Leva a imagem de Nossa Senhora da catedral da Sé até a basílica de Nazaré.
Os romeiros acompanham a pé os cerca de três quilômetros do trajeto pelo centro de Belém. No ano passado, a procissão durou 7 horas e 15 minutos.
A imagem usada hoje é uma réplica da original, que, segundo a tradição oral, é milagrosa e foi encontrada no século 18 pelo pescador Plácido em um igarapé.
Em 1793, o então governador da província do Pará, dom Francisco de Souza, organizou a primeira procissão.
A cada ano o número de romeiros foi crescendo até chegar ao 1,5 milhão de 96, mesmo número estimado para este ano.

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