São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Déficit comercial brasileiro com EUA vai a US$ 9,3 bi após o real

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O real não beneficiou só a população brasileira pobre. Também ajudou, e muito, os exportadores norte-americanos. De 1995 até julho deste ano, os EUA já acumulavam um superávit comercial de US$ 9,346 bilhões com o Brasil.
Isso porque, no período após a implantação do plano econômico, as importações de produtos norte-americanos somaram US$ 32,724 bilhões, enquanto as exportações brasileiras para os EUA se limitaram a US$ 23,378 bilhões.
O Brasil não registrava déficit na balança comercial com os EUA desde 1980. A nova moeda brasileira mudou radicalmente esse quadro. Valorizada diante do dólar, encareceu os produtos brasileiros e barateou os importados.
No que depender do governo de Bill Clinton, o quadro só vai melhorar para os EUA. As projeções do Departamento de Comércio prevêem superávits crescentes este ano e no próximo, quando deverá ser 116% maior do que em 1996.
Confirmadas as metas norte-americanas, o Brasil pós-real chegará ao final de 1998 com um déficit acumulado de cerca de US$ 22 bilhões com os EUA -mais do que o dobro do atual.
No seu relatório comercial sobre o Brasil, o governo norte-americano atribui o superávit à defasagem cambial e à diminuição de barreiras alfandegárias. É o mesmo ponto de vista de críticos da política cambial brasileira.
"Nosso saldo começou a diminuir em 1990, quando fizeram a abertura (tarifária) sem pensar, e piorou em 1994, com a valorização do câmbio", analisa o deputado Delfim Netto (PPB-SP).
O governo brasileiro dá menos importância à defasagem cambial para o déficit comercial. "Tão importante quanto o câmbio é a taxa de juros", diz o chefe do Departamento Econômico do Itamaraty, ministro Graça Lima.
As altas taxas cobradas no Brasil penalizam o exportador brasileiro e estimulam o financiamento de importações no exterior.
O diplomata atribui a redução das tarifas alfandegárias pós-1995 à implementação do Mercosul -o que fez aumentar o volume do comércio exterior brasileiro, principalmente as importações.
Outros fatores que contribuem para o déficit, diz, são a queda dos preços das commoditties que o Brasil exporta, o maior interesse dos empresários brasileiros pelo mercado interno e as restrições dos EUA a importados brasileiros.
Delfim contesta esse último argumento, dizendo que as restrições existem há muito tempo. Os EUA sobretaxam o suco de laranja brasileiro e impõem pequenas cotas de importação para o açúcar brasileiro, por exemplo.
Segundo Graça Lima, não há perspectiva de derrubada dessas barreiras até 1999, quando serão retomadas as negociações da Organização Mundial de Comércio.
Nem mesmo a reunião de chefes de Estado sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), programada para 1998 em Santiago (Chile), deverá ser um fórum negociador para esses problemas.
Tais assuntos não entram na agenda dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton. No máximo, pode ser combinada uma rodada de negociações entre técnicos dos dois países para discutir barreiras sanitárias.
Esse tipo de barreira é responsável pela restrição à venda de frutas e carne brasileira aos EUA.

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