São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Comitiva traz duas limusines e dois helicópteros na 'bagagem'

DE WASHINGTON

Quantas pessoas viajam com o Potus (Presidente of the United States -a sigla pela qual o chefe de Estado é chamado na burocracia) é segredo de Estado. Ninguém diz.
Mas o Consulado do Brasil em Washington expediu cerca de 1.300 vistos para pessoas envolvidas na excursão de Clinton ao país.
Pelo menos seis aviões fazem parte da frota. Eles carregam duas limusines blindadas e dois helicópteros para uso do presidente.
O maior contingente do grupo é o que cuida de comunicações. Calcula-se que pelo menos 600 pessoas façam parte dele. Elas montam verdadeiras centrais telefônicas para a Casa Branca continuar funcionando na viagem como se tivesse ficado em Washington. Telefones celulares são descartados por motivos de segurança.
O sistema também é oferecido aos jornalistas que se credenciam para viajar como integrantes do serviço de imprensa da Casa Branca. A viagem para Venezuela, Brasil e Argentina custa em torno de US$ 20 mil para cada jornalista, fora hotel e refeições. O custo inclui transporte aéreo e em terra e uso das linhas confiáveis da Casa Branca e assegura acesso aos briefings dos assessores do presidente.
O aparato presidencial inclui geradores para manter a parafernália em funcionamento caso haja problemas de fornecimento de energia elétrica nos países visitados, água potável, plasma e material médico para emergências. O Air Force One pode ser transformado num pequeno hospital aéreo.
Uma da atrações da comitiva, talvez a segunda, logo após o avião presidencial, é a limusine blindada. Para onde vá o presidente, vão duas limusines. São Cadilacs construídos pela General Motors a custo estimado de US$ 10 milhões por unidade. Mas a Casa Branca paga leasing de US$ 1 anual para usá-los.
A blindagem do carro resiste a granadas de mão atiradas a curta distância. Se os pneus forem atingidos por tiros, eles ainda podem rodar 80 km à velocidade de 104 km horários. Nas laterais, há pranchas de 28 cm para agentes do Serviço Secreto, que chamam o carro em seu código de "diligência", se acomodarem caso seja preciso.
No interior, a limusine tem telefone, fax, rádio, televisor e vídeo-cassete e um assento para o "homem da bola de boliche", o agente que está sempre perto do presidente com os códigos nucleares numa valise presa por uma corrente à sua mão. Um vidro separa o assento do motorista do lugar destinado aos passageiros.
No começo da "détente" entre EUA e União Soviética, Richard Nixon e Henry Kissinger, quando estavam em Moscou, tinham suas reuniões mais sigilosas a bordo da limusine porque era o único lugar na cidade à prova de escuta hostil.
O nível de segurança da limusine presidencial aumentou muito depois que John Kennedy foi morto em 1963 a bordo de uma delas. O carro de Kennedy era conversível e não tinha blindagem. Mas acredita-se que foi a blindagem do carro de Ronald Reagan que provocou o ferimento do presidente em 1981: uma das balas disparadas por John Hinckley ricocheteou na limusine e atingiu Reagan na barriga.
Agentes
Depois do pessoal de comunicação, o maior número de profissionais na comitiva é o de agentes do Serviço Secreto. Muito pouca gente sabe quantos eles são. Mas além dos ostensivamente visíveis, com seus óculos escuros e ponto no ouvido, há dezenas de outros, atiradores de elite, em locais estratégicos em cada aparição pública do presidente. A pistola que eles usam é a alemã Sig Sauer, de 9 mm.
Em geral, a opinião pública dos EUA aprova todos os investimentos feitos para garantir a segurança do presidente. Afinal, quatro deles já foram assassinados. Nos últimos 25 anos, pelos menos dois sofreram atentados (Gerald Ford, duas vezes, e Reagan) e soube-se de planos para matar George Bush.
Mas algumas pessoas acham que esses cuidados são exagerados no mundo pós-Guerra Fria. Marlin Fitzwater, que foi porta-voz de Bush e agora tem uma empresa de assessoria de imagem em Washington, diz que é "uma afronta" o que se gasta nas viagens presidenciais. "É um terrível desperdício, uma fraude", afirma ele.
A Casa Branca, sede do governo dos EUA, alega razões de segurança para se recusar sequer a discutir em hipóteses o custo dessas excursões e o tamanho das equipes envolvidas nelas.

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