São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997 |
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Sindicâncias não devem apontar os culpados
AURELIANO BIANCARELLI; RENATO KRAUSZ
A equipe de Chamone rebate uma a uma as denúncias listadas no dossiê. Uma delas atribui a Chamone o favorecimento à empresa Baxter, que participava de concorrência para fornecimento do fator coagulante 8. Chamone teria dado um "nada consta" para o produto, responsável por pelo menos um caso de reação adversa em hemofílico. Chamone diz que o produto já tinha sido liberado antes e que essa função não era dele. No episódio do fator 8, o presidente da Pró-Sangue contra-ataca lembrando que, em julho passado, sugeriu a interdição do coagulante Profilate. O produto já teria provocado 19 reações em pacientes. "Estamos aguardando a investigação", diz Marcelo Pitta, presidente da Fundação do Sangue e outro acusado no dossiê. As respostas da equipe estão documentadas por cópias de atas, correspondências, comunicados e portarias do Diário Oficial da União. Questão moral Pessoas que tiveram acesso ao dossiê e que ouviram as argumentações de Chamone acham difícil que alguma irregularidade venha a ser encontrada. Para algumas delas, a questão não seria legal, mas de cunho moral e ético. Ao cercar-se de amigos e sócios no Ministério da Saúde, e por estar à frente de uma fundação que é referência em toda a América Latina, Chamone teria um poder que não consta em papel, mas que no mundo dos negócios contaria muito. Como coordenador de Sangue e Hemoderivados do ministério, cabia a Chamone determinar a quantidade e especificar os hemoderivados a serem comprados. Assim, segundo o dossiê, embora as licitações fossem feitas pela Ceme (Central de Medicamentos), Chamone acabava interferindo. As relações entre a Fundação Pró-Sangue e a Fundação do Sangue -a primeira ligada ao Estado e a segunda, privada- também são suspeitas, segundo o dossiê. A Fundação do Sangue, por exemplo, passou a representar a Cruz Vermelha norte-americana e acabou vencendo a concorrência deste ano para fornecimento do fator 8 de ultra pureza. O caso ainda está na Justiça. "A compra da Cruz Vermelha soma R$ 4,5 milhões e a Fundação do Sangue ficará com 7%, o que corresponde a R$ 300 mil", diz Pitta. "Significa uma pequena ajuda para a Pró-Sangue, que tem um orçamento do SUS de R$ 4 milhões por ano." A Fundação do Sangue, segundo seus diretores, fatura R$ 500 mil por mês, com serviços prestados a hospitais privados. O inquérito para apurar as denúncias do dossiê anônimo contra Chamone foi aberto pela procuradora Geisa Rodrigues, do Rio de Janeiro. (AB e RK) Texto Anterior: Mercado do sangue movimenta R$ 1 bi Próximo Texto: Entenda os dossiês do sangue Índice |
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