São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Alunos desconhecem autores

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quase todos os 55 alunos de 5ª a 8ª série, das redes estadual e municipal, com quem a Folha conversou seriam reprovados num eventual "provão" sobre conhecimentos de literatura.
Apenas cinco dos alunos souberam dizer, por exemplo, o nome do autor do último livro que leram. Poucos souberam contar a história de um livro de que gostaram muito, e quase metade deles não leu nenhum livro no primeiro semestre deste ano.
Cristiane da Silva, 11, da 5ª série da EEPG (Escola Estadual de Primeiro Grau) Jacob Salvador Zveibil, zona norte, "apaixonada por ler livros", enfrentava dificuldades com a precária biblioteca da escola, de apenas 450 volumes, para os quase 1.100 alunos.
Cristiane contou sua história: "Eu adoro ler. Quando eu era pequena, eu chorava todo dia para estudar. Quando fui para a escola, aprendi a ler em um mês, e daí eu não parei mais. Meu tio trabalhava em jornal e trazia gibi todo dia. Mas eu gosto de ler livro, romance. Só que aqui na escola a professora não pede livro para ler. A biblioteca vive sempre fechada e quase não tem livro. Eu pego na biblioteca do bairro. O último que eu peguei foi um de Érico Veríssimo."
A aluna Lígia Garcia Santiso, 14, da 8ª série da Jacob Zveibil, leu no primeiro semestre o livro "A Árvore que Dava Dinheiro", de Domingos Pellegrini, por indicação da professora de português. "Aqui na escola eu já li 'Sangue Fresco' (de João Carlos Marinho) e muitos de Paulo Coelho e Sidney Sheldon. Mas esse ano a escola não pôde comprar livro."
Nas escolas estaduais visitadas pela Folha, os professores de português disseram escolher os livros a partir de listas que recebem das editoras e da Secretaria da Educação, via FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação).
"Os critérios de escolha, a gente deixa para o aluno. É meio livre. Nós só sugerimos e às vezes indicamos algum, de acordo com o nível da criança, depois de fazermos uma sondagem. Eles gostam mais de literatura de suspense, terror e mistério. Mas tem alunos maravilhosos. Uma aluna da 7ª série escolheu 'Senhora' (de José de Alencar) uma vez.", explicou a professora Alaide Paiva da Silva, que não tinha indicado nenhum livro no primeiro semestre.
A maioria dos professores adota seminários e debates para avaliação de leitura, mas poucas vezes a classe toda lê o mesmo livro.
(MF)

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