São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Polícia não ficou parada, afirma coronel

Ex-comandante vê boicote

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-comandante-geral da Polícia Militar paulista Claudionor Lisboa diz que a PM não parou de trabalhar após Diadema e a proposta de reforma da corporação do governador Mário Covas.
"Diadema afetou a auto-estima da tropa, mas nunca paramos de atuar", afirma.
Dois dados comprovariam a atuação da polícia, segundo Lisboa: o número de prisões em flagrante aumentou 77% e a apreensão de armas subiu 9,6% entre janeiro e agosto deste ano em relação ao mesmo período de 1996.
Indicadores de eficiência
Segundo Lisboa, os melhores indicadores da qualidade do policiamento preventivo não são o número de homicídios, roubos, furtos e furto e roubo de veículos. "Não dá para dizer que a queda de homicídios decorre de policiamento", exemplifica.
Prisões em flagrante e apreensão de armas espelhariam melhor a qualidade da polícia, diz Lisboa. E, segundo ele, a Secretaria de Segurança boicota a divulgação dos dados positivos da PM.
O secretário de Segurança, José Afonso da Silva, diz que não é verdade. "Nunca deixei de mencionar esses dados positivos." Ele levanta, porém, uma dúvida sobre a positividade dos números.
"Será que a Polícia Militar está prendendo muito porque estão ocorrendo muitos fatos criminosos e não está havendo policiamento preventivo?", pergunta.
A apreensão de armas teria aumentado em 1997 porque no ano passado o número havia sido muito baixo, diz o secretário.
Meios para melhorar o policiamento não faltaram, segundo Afonso da Silva. No governo Covas, a PM recebeu 4.260 viaturas, num investimento de R$ 75,4 milhões. O gasto com equipamentos deve atingir R$ 14,9 milhões, dos quais R$ 3,62 milhões já foram gastos e o restante está em fase de licitação.
O governo contratou mais 10 mil policiais, chegando a um contingente de 80 mil homens. Em julho último, os policiais receberam aumento conforme a posição na hierarquia -de 34% (soldados) a 8,5% (tenentes).
Descaso histórico
Esses investimentos podem ser insuficientes, segundo o ex-comandante da polícia. Em 1900, segundo ele, a área de segurança pública em São Paulo recebia 25% do orçamento do Estado. Em 1994, essa fatia encolheu para 5,3%. "Será que esse descaso histórico não teria ocasionado esse aumento da criminalidade?", questiona.
Desemprego e falta de investimentos na área social também explicariam o salto na violência, afirma Lisboa.
O ex-comandante diz que a sua pregação em quartéis contra a proposta de Covas não causou a paralisação da polícia.
O coronel afirma que não houve deslealdade. "Sempre deixei claro ao governador que era contra a proposta."
(MCC)

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