São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Remédio é opção e dilema para obesos

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tomar ou não tomar remédios para emagrecer? Essa é a pergunta que milhares de obesos no Brasil estão fazendo aos seus médicos depois das recentes notícias sobre os riscos de algumas dessas drogas.
No último mês, a FDA -agência reguladora de drogas e alimentos nos EUA- recomendou a retirada provisória dos remédios feitos com fenfluramina e dexfenfluramina e advertiu sobre os riscos da associação "fen-phen" (fenfluramina com phentermina).
A fenfluramina existe há mais de 35 anos e a dexfenfluramina, há mais de 12. Durante duas décadas, elas foram consideradas as opções mais seguras para o tratamento da obesidade. As únicas complicações encontradas eram casos raros de hipertensão pulmonar. Mais de 70 milhões de pessoas, em todo o mundo, tomaram as duas drogas.
No entanto, em julho desse ano, a clínica Mayo (uma das mais respeitadas nos EUA) relatou 24 casos de mulheres tomando "fen-phen" que desenvolveram problemas nas válvulas do coração.
Depois disso, a FDA foi comunicado sobre mais de cem casos semelhantes em todo o país e recebeu um relatório com ecocardiogramas (exame que "enxerga" com nitidez as válvulas do coração) de pacientes que usavam "fen-phen" e que mostrou alteração em um terço dos casos.
Com base nesses dados, a FDA recomendou que os laboratórios retirassem provisoriamente os medicamentos do mercado, até que os riscos fossem esclarecidos.
No Brasil, remédios como Minifage-AP e Lipase (com fenfluramina) e Isomeride e Fluril (com dexfenfluramina) foram recolhidos por iniciativa dos laboratórios.
Mas outros medicamentos com as mesmas substâncias (Delgar, Fatinil, Lipiless e Fluramine) continuaram a ser vendidos, deixando uma opção e um dilema para os obesos e seus médicos.
O endocrinologista Alfredo Halpern, professor livre-docente do Hospital das Clínicas da USP, diz que é muito estranho que só agora os problemas nas válvulas tenham sido constatados.
Se um terço dos 70 milhões de pacientes que tomaram as drogas tivesse problemas, seriam mais de 23 milhões de doentes. Só nos EUA, estima-se que 18 milhões de pessoas tomaram "fen-phen".
Segundo Halpern, os dados que mostram que o uso isolado de fenfluramina ou dexfenfluramina pode causar lesão nas válvulas do coração são ainda inconsistentes.
O risco maior parece estar mesmo na associação de uma delas com a phentermina, inibidor do apetite que não existe no Brasil. Halpern diz que os benefícios aos pacientes obesos são superiores aos riscos hoje comprovados.

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