São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Privatização dará fôlego em ano eleitoral

GUSTAVO PATÚ
COORDENADOR DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A megaprivatização de 98 dará fôlego ao governo para atravessar o ano eleitoral sem os ajustes necessários para a consolidação do Plano Real.
Espera-se que, nos próximos dois anos, a Receita Federal fique com pelo menos R$ 53,4 bilhões da venda das estatais -para uma comparação, desde que foi criado, o programa de privatização rendeu US$ 17,34 bilhões.
Com a previsão de promover a maior parte dessas privatizações no próximo ano, será possível tapar, ao menos parcialmente, os dois buracos que ameaçam a estabilidade: os déficits público e externo.
Ambos exigem providências que não devem ser adotadas em 98, seja porque o governo evitará medidas impopulares, seja porque o Congresso não aprovará reformas por estar mais preocupado com as campanhas eleitorais.
Nas contas públicas, não se deve esperar muitos progressos em termos de controle de gastos da parte dos governos federal, estaduais e municipais. Estão previstos, por exemplos, reajustes salariais para os funcionários públicos e um aumento do salário mínimo.
Pelos dados mais atualizados, os gastos do setor público superam as receitas em R$ 27,4 bilhões -considerando o período de 12 meses encerrado em julho último.
Mantido esse patamar no próximo ano, ou mesmo com alguma piora, pode-se projetar que o déficit poderá ser compensado, até com alguma folga, pela venda de estatais. Evita-se assim um aumento da dívida pública.
Capital externo
Se, hoje, o déficit corrente -que mede essa dependência- está em 4,3% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da riqueza nacional), ou US$ 33 bilhões, avalia-se que no próximo ano o buraco se aproximará de 5% do PIB.
Mas, enquanto não pode comemorar a esperada reação das exportações, o governo conta com a privatização para atrair dólares suficientes para cobrir a maior parte desse déficit.
Por esse raciocínio, o capital externo para comprar estatais é de melhor qualidade -é um investimento a longo prazo- que os recursos atraídos unicamente pelas aplicações no mercado financeiro.

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