São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997 |
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Peças infantis trazem diálogos fantásticos
MÔNICA RODRIGUES COSTA
Ende (1929-1995) é um desses autores que conquistam por tocar em pontos sensíveis, da vida e suas vicissitudes, seja em enredos mais infantis, no modo de contos de fada, como "A História Sem Fim" -sobre garoto solitário devorador de livros e gigantes devoradores de pedras, que viraram personagens do cinema-, seja retratando o mundo adulto para crianças e jovens. A memória da protagonista de "O Teatro de Sombras de Ofélia" retira da bolsa amarelada de lembranças para remeter a Lygia Bojunga Nunes, escritora brasileira com peso estilístico igual, recordações de um tempo que passou. Bem representada na peça, que tem adaptação fiel ao conto (Castanheira), trata-se de uma senhora que vive de reminiscências. Ganhou com seu nome, Ofélia, o carma de pertencer ao mundo do teatro. Atriz frustrada, chegou a ser feliz como ponto em um de teatro. Passou a vida soprando falas de personagens ao elenco esquecido. Depois do teatro fechado, trocado por um espaço comercial, Ofélia torna-se personagem de sua própria memória e passa a viver num mundo fantástico, feito de sombras. Na montagem, as sombras adquirem dimensões gigantescas, poderosas, que preenchem o palco e a personalidade da protagonista. A iluminação é o figurino e o cenário, o instrumento que faz as imagens ganharem volume, cor e formas. É pena que o espetáculo abra mão de um acabamento perfeito, como o pano central de projeção, que tem uma costura grossa -e indesejável- no centro. Mas, nesse ambiente que projeta a memória com luz, é como se "O Teatro de Sombras de Ofélia", ao revelar Ofélia, falasse do próprio teatro. O que seduz (imagino) as crianças é a coincidência com as brincadeiras infantis, povoadas de seres imaginários, que contracenam na elaboração dos problemas e ajudam na cognição do mundo. Ende consegue representar, em suas narrativas, a contraposição das fantasias auto-suficientes com a vida como ela é (ou quase). O conto de Michael Ende está também em livro recente, editado pela Martins Fontes ("A Escola de Magia e Outras Histórias"). Estréia Vale a pena conferir o espetáculo que estreou ontem, sábado -o musical "Entre o Céu e o Mar", adaptado por Pauline Milek do livro de Amyr Klink, "100 Dias Entre o Céu e o Mar". A montagem enfoca a viagem solitária do navegador, que cruzou o oceano Atlântico vindo da África, a bordo de um barco a remo. O protagonista, como Ofélia, imagina conversas com seres diferentes. Dessa vez, são gaivotas, tubarões, baleias e outros peixes. O espetáculo é dirigido por Ilo Krugli, do Teatro Vento Forte. Peça: O Teatro de Sombras de Ofélia Direção: Edilson Castanheira Com: Grupo Caldeirão Onde: teatro Ruth Escobar, sala Dina Sfat (rua dos Ingleses, 209, tel. 011/289-2538) Quando: sábados e domingos, às 16h Quanto: R$ 12 Peça: Entre o Céu e o Mar Direção: Ilo Krugli Com: Dinah Kleve, Dinho Lima, Elisângela Mantovani e outros Onde: teatro Vento Forte (rua Brigadeiro Haroldo Veloso, 150, tel. 011/820-3095) Quando: sábados e domingos, às 17h Quanto: R$ 12 Texto Anterior: Goldie instala o conceito de superstar dos anos 90 Índice |
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