São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Expansão do inglês contamina idiomas

RODRIGO ONIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

O Império Britânico está morto. Mas a língua de Shakespeare, liderada pelos neocolonizadores americanos, está em expansão. Não se limita mais ao mundo dos negócios, do entretenimento e dos novos modismos.
Impulsionado pelas novas tecnologias, o inglês contamina as línguas de todo o planeta, sofrendo adaptações de acordo com o idioma e os costumes locais.
Os sempre organizados alemães, a partir do ano que vem, passarão a escrever algumas das palavras estrangeiras de uma forma diferente -supostamente mais fácil e lógica. Se a reforma ortográfica sobreviver às ações na Justiça, cerca de 120 nomes do inglês, do francês e até de línguas mortas, como o grego arcaico e o latim, deverão ser "germanizadas".
"Germanizar" as palavras significa escrevê-las de acordo com as regras de transliteração fonética e de gramática do alemão, adaptar as palavras de outras línguas ao idioma falado na Alemanha, na Áustria e na maior parte da Suíça.
A solução encontrada pelos germanófonos representa um comportamento típico da língua, segundo especialistas. "Entre 80% e 90% das palavras do alemão não são de origem germânica", afirma Klaus Heller, do Instituto para a Língua Alemã. Desde março, ele é o secretário-geral da comissão que trata da implementação da reforma ortográfica, aprovada em 1996.
Mas não são apenas os jovens. Essas palavras estão listadas nos principais dicionários do país e são usadas pelos jornais locais.
Um deles, o "Die Woche" ("A Semana"), foi mais longe. Já publica todas as suas reportagens com as novas regras ortográficas, que só valerão a partir de 1998.
Para uma das maiores críticas ao alemão, a de usar palavras longas, com até mais de 40 letras, a reforma encontrou também uma solução. "Kennenlernen" (vir a conhecer), por exemplo, passará a ser escrito "kennen lernen", como duas palavras distintas. Outras mudanças da reforma tratam da fonética das palavras, da separação de sílabas e da redução do uso das constantes vírgulas.
Heller considera a comoção em torno das mudanças exagerada. Ele, como a maioria dos germanistas, tem uma posição aberta a mudanças e a influências do exterior.
"Nós usamos essas palavras estrangeiras porque precisamos delas, ninguém nos obriga", afirma.

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