São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Resposta dos que trabalham

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Alguns comentaristas desavisados da imprensa brasileira vêm desenvolvendo uma estranha tese segundo a qual o Brasil só não exporta mais porque os empresários estão acomodados com o que possuem no campo doméstico, tendo pouco interesse em se modernizar e disputar mercados mais competitivos.
Essa é uma tese eivada de defeitos. Em primeiro lugar, ela está atrasada uns 30 anos, pois, de fato, muitos empresários se acomodaram na fase de substituição de importações. Mas isso foi nos anos 50 e 60 -e não hoje.
Em segundo lugar, porque a realidade não está do lado dos que defendem essa tese. No passado, o Brasil exportava 75% de produtos primários. Hoje, exporta 75% de manufaturados e semimanufaturados. No mês passado, a indústria automobilística exportou 40.840 unidades, batendo seu recorde, de 1987, quando vendeu para o exterior 40.457 veículos.
Em terceiro lugar, porque, apesar dos entraves atuais, o país vem subindo no ranking de competitividade e qualidade dos produtos. Entre 1992-97, mais de 2.000 empresas brasileiras conquistaram a certificação ISO, o que colocou o Brasil na liderança isolada na América Latina. Em 1994 o Brasil nem fazia parte dos países que possuíam produtos de qualidade mundial. Hoje ocupa o 14º lugar entre mais de cem nações.
Isso tudo não foi obra do acaso ou das especulações daqueles que se levantam às 10h. Ao contrário: foi fruto do suor dos trabalhadores e empresários.
O ânimo exportador do empresariado brasileiro só é superado pela teimosia do governo em querer exportar impostos. Assim como os governantes estão demorando para entender que não existe demanda por impostos (em nenhuma parte do mundo), está difícil para certos analistas compreenderem que a maior parte dos problemas do parque industrial está fora das empresas: câmbio, portos, juros, estradas, estocagem, tributos, encargos e tantos outros fatores que elevam o "custo Brasil", encarecem os produtos, diminuem a rentabilidade das empresas e derrubam suas chances de exportar.
Enfim, criticar é fácil. Fazer é difícil. Mas dá para entender esse persistente cultivo à crítica gratuita. Os que assim procedem nunca exportaram um só parafuso e não têm a menor idéia das dificuldades desse jogo. É muito cômodo para eles sentar diante do seu computador e disparar petardos contra os que enfrentam as dificuldades do mundo real.
Felizmente há honrosas exceções na imprensa. É isso que li no editorial do "Jornal da Tarde" de 8/10/97: "Os que acreditam que o resto do mundo embarcará num movimento coordenado para aumentar seus impostos e custos de produção podem continuar, tranquilamente, fazendo o mesmo por aqui. Mas se entenderem que os Estados Unidos, os Tigres Asiáticos, a América Latina em peso, a China e o resto do planeta continuarão caminhando na direção que vão indo, de reduzir o peso dos impostos sobre a produção, fazer isso só no Brasil é condenar o país a morrer rapidamente, à margem da corrente da história. É doar, para esses países, os empregos brasileiros".

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