São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Relações Brasil-EUA na era da globalização

MARCÍLIO MARQUES MOREIRA

A análise das relações econômicas Brasil-Estados Unidos tem de situá-las no novo contexto mundial que se caracteriza por dois traços marcantes que se completam e se contrapõem: a globalização e os regionalismos.
O ocaso da Guerra Fria pôs fim às polaridades da vida e da morte (Leste/Oeste) e do ter e não ter (Norte/Sul). Assim, acelerou o processo de globalização. Em contrapartida, ressurgiram focos de fragmentação. Os regionalismos procuram mediar a tensão entre forças centrípetas e centrífugas, ao superar afastamentos históricos e explorar proximidades geográficas e afinidades econômicas.
Exemplos são a União Européia, construída sobre a aliança entre tradicionais inimigos -França e Alemanha- e o Mercosul, lastreado no eixo de cooperação entre Brasil e Argentina.
Enquanto a economia dos Estados Unidos se revitaliza, a Europa, apesar de problemas como o desemprego, caminha para introduzir na União Européia moeda única -o euro. A Ásia Pacífica, por sua vez, continua demonstrando forte dinâmica econômica (afora turbulências recentes) e dá passos em direção a uma integração incipiente no seio da Asean e da Apec.
Dentro desse contexto, os Estados Unidos conceberam a Nafta e a Iniciativa das Américas, embrião da Alca, como seguro contra o fracasso das negociações então ainda inclusas da Rodada Uruguai e defesa contra o que percebiam como "fortalezas" comerciais "in fieri" na Europa e na Ásia.
Já o Brasil tem objetivos próprios. Como "global trader", prestigia a Organização Mundial do Comércio, mas, como país emergente, interessa-lhe integrar união aduaneira/mercado comum, para adensar as relações com seus vizinhos e alavancar o cacife para negociações mais amplas.
OMC, Alca e Mercosul formam, portanto, círculos concêntricos em que escopo espacial e densidade de relacionamento são inversamente proporcionais. O interesse estratégico do Brasil, entretanto, não colide com o dos Estados Unidos. Os objetivos globais destes só tem a ganhar com regionalismos que sejam realistas, dinâmicos e abertos.
É o caso do Mercosul. Urge consolidá-lo e, ao mesmo tempo, tecer teia de vínculos preferenciais, mas não excludentes, com outras áreas de adensamento econômico, como a UE, a Apec e a Nafta, levando na devida conta, inclusive no gradualismo de sua implementação, os estágios diferenciados de desenvolvimento. Só assim estabelecer-se-á relacionamento mutuamente vantajoso e de fato simétrico.

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