São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Washington minimiza o peso da "relação carnal" com a Argentina

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Para um país como a Argentina, cujas autoridades se orgulham de tentar manter "relações carnais" com os Estados Unidos, a visita do presidente Bill Clinton seria uma oportunidade de ouro para um orgasmo múltiplo.
Ainda mais que o presidente encaminhou ao Congresso, uma semana antes de chegar a Buenos Aires, a proposta para que a Argentina seja alçada à condição de aliado militar preferencial.
O chanceler argentino, Guido di Tella, chegou a saudar o anúncio da proposta, antes portanto de sua formalização, como a consumação das "relações carnais".
Lua-de-mel
Mas o governo norte-americano está fazendo de tudo para aguar a lua-de-mel.
Primeiro, seus porta-vozes não se cansam de relativizar a importância desse rótulo, que tem "mínimos efeitos práticos", segundo Jeffrey Davidow, secretário-assistente de Estado para a América Latina.
Davidow até disse que os EUA estenderiam a qualificação a Brasil e Chile, se seus governos assim o quisessem.
Depois, a Casa Branca confirmou que o presidente gostaria de falar sobre corrupção em sua visita a Buenos Aires.
Claro que Clinton não chegará ao extremo de dizer, ao contrário do que fez documento interno sobre o Brasil, que a corrupção na Argentina é "endêmica".
Trata-se apenas de realçar um tema que está se tornando recorrente nos documentos dos organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial: a corrupção significa um custo adicional para os negócios.
Por fim, Clinton achou por bem avistar-se também com os líderes da oposição argentina, entre eles o antecessor de Menem, Raúl Alfonsín (União Cívica Radical).
Como visitas presidenciais são, acima de tudo, grandes "photo opportunities" (ocasiões para fotos), Menem perderá a exclusividade de aparecer nelas ao lado de Clinton, a dez dias de eleições parlamentares cruciais para sua maioria no Congresso.
Tudo isso parece indicar que o governo norte-americano não quer que as "relações carnais" com a Argentina atrapalhem um relacionamento, embora menos caloroso, com vizinhos da Argentina, como Brasil e Chile.

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