São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997 |
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FHC e Menem unem discurso sobre Alca
CLÓVIS ROSSI
Com isso, evitam que prosperem desconfianças em torno de uma suposta intenção do governo norte-americano de dividir os países sul-americanos, em especial os do Mercosul, para facilitar a criação da Alca no ritmo pretendido pelos Estados Unidos. A intenção, suposta ou real, de dividir o Mercosul foi primeiro denunciada por Rodolfo Terragno, presidente da UCR (União Cívica Radical), o mais antigo partido político argentino. Ao voltar de um simpósio promovido pela Fundação Carter (do ex-presidente Jimmy Carter), Terragno disse que os EUA pretendiam convidar a Argentina, isoladamente, a integrar o Nafta (a área de livre comércio que inclui EUA, Canadá e México). Logo depois, houve o anúncio de que a Argentina seria designada aliada militar preferencial dos EUA (proposta que só esta semana o presidente Clinton formalizou). Tempestade Aí, produziu-se uma tempestade, em parte pela precipitação do presidente argentino Carlos Menem. Ancorado na qualificação de aliado preferencial, Menem reivindicou para a Argentina o assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas reservado à América Latina. É um lugar que o Brasil ambiciona e para o qual o governo acredita ter qualificação natural (pelo tamanho, peso econômico, população etc.). "Incorreta" Jeffrey Davidow, subsecretário de Estado para assuntos interamericanos, incumbiu-se de jogar água sobre o fogo de suspeições que se alastrava. Em entrevista à rede pública de rádio, considerou "no mínimo incorreta" a tese de que os Estados Unidos estavam querendo dividir para poder reinar nas Américas com mais facilidade. E ainda estendeu ao Brasil (e também ao Chile, que se queixara igualmente do rótulo concedido à Argentina) o convite para que fossem, se quisessem, aliados militares preferenciais. A operação de apaziguamento incluiu também menções elogiosas ao Mercosul, antes criticado em termos depreciativos pela xerife do comércio internacional norte-americano, Charlene Barshefsky. É verdade que os elogios vieram cercados de condicionamentos. "Saudamos o Mercosul", chegou a dizer, em São Paulo, no mês passado, Thomas McLarty, conselheiro de Clinton. Mas emendou com o condicional: "Os EUA respaldam plenamente pactos comerciais regionais entre nossos vizinhos do hemisfério que criem mas não desviem comércio e que não aumentem a discriminação contra parceiros que não sejam parte do pacto". A temperatura cedeu, mas não o suficiente para desfazer o mal-estar decorrente da certeza, entre os países do Mercosul, de que os Estados Unidos têm fortes restrições ao bloco. Versão oficial A visão norte-americana, cortesias à parte, consta de depoimento ao Congresso de Jeffrey Lang, o vice de Charlene Barshefsky: "Toda vez que um acordo comercial é concluído e reduz barreiras entre as partes, e tais partes não incluem os Estados Unidos, os produtores baseados nos EUA são postos em desvantagem competitiva nesses mercados". É uma descrição que combina à perfeição com o Mercosul, de resto citado por Lang: "A Argentina, por exemplo, aumentou substancialmente suas tarifas em produtos de computação importados, para acomodar-se aos interesses brasileiros". Tudo somado, fica evidente que a estratégia norte-americana é superar o Mercosul por intermédio da Alca, este sim um acordo comercial em que as partes incluem os Estados Unidos. Tese, de resto, exposta com clareza em palestra que o subsecretário do Tesouro, Lawrence Summers, fez na última quinta-feira. (CR) Texto Anterior: Washington minimiza o peso da "relação carnal" com a Argentina Próximo Texto: Como estão as negociações para a formação da Alca Índice |
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