São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Gabeira tenta obter perdão dos EUA

LUÍS COSTA PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O Congresso brasileiro que amanhã recebe solenemente o presidente norte-americano Bill Clinton tem entre os seus 594 parlamentares alguém que, aos olhos da diplomacia dos Estados Unidos, é um cidadão especial: o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).
Apesar de ter mandato como deputado federal, de ser militante das causas pacifistas e de pregar um mundo com "paz e amor", como diziam seus bordões da última campanha eleitoral, Gabeira é considerado terrorista pelos EUA.
Tem passaporte diplomático, mas não pode receber visto de entrada no país. O deputado Fernando Gabeira não conhece Nova York, Miami, Washington, Chicago ou Los Angeles.
Não é mera implicância dos norte-americanos. Há 28 anos, no dia 4 de setembro de 1969, Gabeira e outros oito membros do MR-8 e da ALN, grupos de resistência política que atuavam na clandestinidade, sequestraram o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, para trocá-lo por 15 presos políticos brasileiros.
A ação foi um sucesso e passou à história por meio do livro "O Que É Isso, Companheiro?", de sua autoria. Considerado "persona non grata" nos EUA, o deputado não foi convidado para o coquetel de boas-vindas a Clinton, hoje à noite, no Palácio do Itamaraty. Ele ainda não sabe se irá cumprimentá-lo amanhã no Congresso.
"O sequestro foi um ato político em um momento de repressão às liberdades individuais no Brasil. Faz parte da história", considera Gabeira. O deputado tentou obter visto de entrada nos EUA três vezes. Uma delas, antes de se eleger, para participar de um congresso na Universidade de Columbia e duas como parlamentar.
"O ministro Luiz Felipe Lampreia (Relações Exteriores) pediu-me há alguns meses um histórico do caso. Não sei se tratará do assunto. Quero conhecer os Estados Unidos. Recebi enorme influência da cultura norte-americana", revela ele. E brinca: "Se não conseguir desta vez, peço de novo no ano 2000. Afinal, os problemas que justificam a negativa terão sido coisa do milênio anterior".

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