São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Nova Paranapanema perde R$ 124 mi

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano e dez meses depois de ter seu controle adquirido por cinco fundos de pensão, a Paranapanema, um dos maiores grupos dos setores mineral e metalúrgico brasileiros, transformou-se numa fonte inesgotável de prejuízos para seus acionistas e numa mina de privilégios para seus diretores.
Sob a gestão dos fundos, o grupo acumulou, nos últimos 22 meses, um prejuízo oficial de R$ 124 milhões. As dívidas são da ordem de R$ 930 milhões.
Investigação feita pela Folha revela que o grupo paga salários muito acima dos de mercado para seus sete principais diretores. Cinco deles são ex-executivos que saíram da Companhia Vale do Rio Doce às vésperas da privatização.
Além dos altos salários, esses diretores ganham uma participação peculiar nos resultados da Paranapanema. Por conta de cláusulas em seus contratos, recebem bônus sobre os resultados mesmo em anos em que a empresa vai mal e apresenta prejuízo. Foi assim em 1996, ano em que o prejuízo oficial da Paranapanema foi de R$ 80 milhões e os sete receberam, em bônus, mais de R$ 2 milhões.
A gestão dos cinco fundos de pensão -dos quais quatro são de empresas estatais- levou também para a Paranapanema outros vícios típicos do setor público, como contratar parentes. Ex-diretor da Vale do Rio Doce, o presidente da Paranapanema, Dennis Braz Gonçalves, já contratou um cunhado -Herbert Ferreira Braz -e um primo -Hélio Vieira -para trabalhar em empresas do grupo.
Em entrevista na última quinta-feira, o presidente admitiu ter contratado Vieira, mas disse que Ferreira Braz seria um primo distante, "em enésimo grau". Na sexta, procurado novamente pela Folha, o presidente da Paranapanema reconheceu que Ferreira Braz é, também, seu cunhado. "Não disse na entrevista porque você não perguntou", afirmou.
Outros dois superintendentes -Ricardo Dequech e Haroldo Dutra Garcia-, também ex-gerentes da Vale, contrataram suas mulheres para empresas da Paranapanema, em São Paulo e no Amazonas.
A mulher de Dequech e um dos primos de Gonçalves, Vieira, pediram demissão neste ano.
José Valdir, ex-presidente da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil que detém o controle da Paranapanema, tem um protegido -Alfredo Belo- trabalhando na Paraibuna, empresa do conglomerado situada em Juiz de Fora.
Por conta da situação financeira da Paranapanema, os fundos estão tendo que colocar cada vez mais dinheiro no grupo.
Em agosto passado, por não ter pago os juros de debêntures em poder da BNDESpar (empresa de participações do BNDES), os fundos de pensão bancaram uma emissão de R$ 200 milhões em títulos da Paranapanema para, entre outras finalidades, tirá-la da lista negra do banco.
Na próxima semana, os mesmos fundos de pensão decidem se aceitam bancar a emissão de mais R$ 480 milhões em debêntures da Paranapanema, o que seria, segundo os diretores do grupo, "o ponto de partida para a sua reestruturação".
Apesar das dificuldades financeiras da Paranapanema, os diretores executivos das empresas que compõem o grupo ganham, no mínimo, salário anual de R$ 325 mil mais um "bônus referente à participação nos resultados de, no mínimo, uma remuneração anual global", segundo uma das cláusulas de dois contratos de diretores. A Folha apurou que todos os contratos dos outros diretores contém essa mesma cláusula. Isso significa que no final de cada ano o diretor que menos ganha no grupo recebe em sua conta, independentemente dos resultados, outros R$ 325 mil, totalizando R$ 650 mil.
Já o presidente, Dennis Braz Gonçalves, ganha 13 salários de R$ 35 mil por ano, totalizando R$ 455 mil. No final do ano passado recebeu outros R$ 455 mil a título de bônus, mesmo tendo a companhia apresentado prejuízo. Com isso, seu salário anual saltou para R$ 910 mil. Todos ganharam entre R$ 50 mil e R$ 130 mil de luvas ao entrar na companhia, têm direito a carro e motorista.
A Folha consultou duas empresas especializadas em selecionar executivos para grandes companhias. Elas estimaram entre R$ 250 mil e R$ 300 mil o salário justo para um diretor da Paranapanema. E entre R$ 350 mil a R$ 450 mil o salário máximo do presidente.
Segundo as empresas, é contraditória a estipulação de um valor mínimo para a participação nos resultados da companhia. Eles consideram esse valor um salário, e não um prêmio.
Sob a administração dos fundos, a Paranapanema mudou sua sede, de São Paulo para o Rio. É hoje a companhia privada brasileira na qual os fundos de pensão detêm o maior controle do capital votante.

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