São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Abertura custa 811 mil empregos em 90/95

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A economia brasileira teria criado mais 811,3 mil empregos no período 1990/95 se o país não tivesse experimentado a abertura comercial. A absorção de mão-de-obra no período não teria crescido 9,9%, mas 11,8%.
A conclusão é dos economistas Maurício Mesquita Moreira e Sheila Najberg, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no trabalho que realizaram sob o título "Abertura comercial: criando ou exportando empregos?".
Se o impacto da abertura comercial em 1990/95 tivesse sido nulo, o emprego no setor agropecuário teria crescido 5,6%, e não 3,6%; no setor extrativo, caído 31%, e não -17,5%; em serviços, aumentado 18,1%, e não 17,5%; e na indústria de transformação, evoluído 3,6%, e não se retraído 1%.
No resumo do trabalho, Moreira e Sheila afirmam que "não existem bases teóricas e empíricas que dêem sustentação ao argumento de que um regime de comércio aberto leve necessariamente à destruição de postos de trabalho e ao desemprego".
Analisando o Brasil no período 1990/95 com base na PNDAD (Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios) do IBGE, os dois economistas concluíram que a abertura teve, de fato, um custo em termos de emprego no curto prazo.
Esse custo, entretanto, tem sido relativamente reduzido, segundo eles, "apesar das condições macroeconômicas adversas em que foi realizada a transição para um regime comercial aberto".
O impacto da abertura comercial no que eles chamam no trabalho de coeficiente doméstico (participação da produção doméstica no consumo interno) foi de -1,9% no período 1990/95.
Os 811,3 mil empregos que deixaram de ser criados no período correspondem a 1,2% do total do pessoal ocupado no país em 1995.
O estudo também conclui que o maior impacto da abertura no emprego foi sobre os setores mais intensivos em capital, os mais protegidos no período anterior de substituição de importações, lembra Moreira.
Enquanto o custo-emprego foi de 1,2% no total do pessoal ocupado em 1995, em 14 setores industriais intensivos em capital o impacto alcançou 6,2%. O emprego caiu 11,1% e teria encolhido 3,6% se o impacto da abertura fosse nulo.
Trabalho menos qualificado
Nas áreas classificadas como intensivas em trabalho menos qualificado e em recursos naturais houve impacto sobre o emprego, mas bastante reduzido. Setores industriais com esse perfil ganham com a abertura, diz o economista do BNDES, lembrando indústrias que se instalam agora no Nordeste.
Na análise de Moreira, isso reflete um ajuste de contas com o que ocorreu nas décadas de 70 e 80, mas não se trata de volta ao século 19, diz ele.
Passada essa fase de transição, a economia volta ao normal na busca de produtividade.
O salário nas montadoras, exemplifica ele, foi mais alto no passado à custa do resto da economia. Com a economia fechada, essas indústrias impunham preços e seus trabalhadores acabaram se beneficiando disso.

Texto Anterior: Executivo nega favorecimento
Próximo Texto: Na onda; Produtividade maior; Com resultados; Efeito duradouro; Cultura em alta; Mapa da mina; Últimos metros; Remédio em debate; De porta em porta ; Novo papel; Arrumando as malas; Cortando a fita; Pela base; Ditadura sindical
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.