São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Peter Hook leva ao Monaco a herança musical do New Order

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nos últimos 20 anos, os dois maiores baixistas do pop foram Sting e Peter Hook. Eles influenciaram o jeito de tocar de pelo menos umas três gerações do pop, principalmente Peter. Nenhum músico escuta o New Order sem ficar hipnotizado pelo seu baixo."
A afirmação acima, de David Potts, não é isenta. Afinal, Potts e Peter Hook são o duo Monaco, que está estourado nas paradas com o hit "What Do You Want From Me?" (aquele do corinho "sha-la-la, la-la, la-la...").
O Monaco faz sucesso com músicas que soam idênticas às do New Order: são dançantes, com teclados reforçando o tripé guitarra-baixo-bateria, e têm letras "pra cima", alegres e românticas, mas não bobas.
Há exatos 20 anos, Hook começou a fazer história no rock com o Joy Division, uma usina de som claustrofóbico e soturno liderada pelo vocalista Ian Curtis, que se enforcou na casa dos pais em 1980.
Os remanescentes mudaram o nome da banda para New Order, chamaram uma amiga para tocar com eles e inundaram seu estilo de teclados e batida "disco".
O New Order se tornou uma das bandas mais bem-sucedidas dos anos 80 e pode ser considerado um dos avós do tecno e suas variações.
Nesta década, o grupo não chegou a acabar oficialmente, mas todos os integrantes estão mais ocupados com projetos novos. Hook montou uma banda mais pesada, Revenge, que durou dois discos. Agora, com Potts (que também tocava no Revenge), voltou ao estilo pop dançante.
Hook, 41, mora em Manchester (Inglaterra), onde nasceu, e falou à Folha da casa de amigos, em Londres, dias antes do início da turnê britânica do Monaco.
*
Folha - O Mônaco não parece demais o New Order? Peter Hook - Acho que sim, mas não vejo nada errado nisso. É meu jeito de fazer música. Eu até gosto das comparações, porque agora as pessoas vão ver como eu participava bastante das composições do New Order. Ei, caras! Não era o Bernie (Bernard Sumner) que escrevia tudo no New Order! (risos)
Folha - Vocês ainda são amigos?
Hook - Eu cresci junto com esses caras. Bernie e eu somos quase vizinhos, Stephen (Morris) e Gillian (Gilbert) têm um bebê lindo. Sabe, estou cansado de responder sobre "a volta do New Order". O grupo não pode voltar, porque simplesmente não foi a lugar algum. Só paramos de fazer discos. Pode ser que Bernie ligue, e a gente combine um novo disco.
Folha - David Potts já tocava no Revenge. Como se conheceram?
Hook - Há dez anos tenho meu próprio estúdio. David começou a trabalhar lá em 1989, como assistente. Depois passou a tocar, ficamos amigos, e cada um passou a ajudar o outro em seus projetos. Agora resolvemos ter o nosso.
Folha - O sucesso de vocês é responsável por esse resgate do New Order, já que os discos da banda voltaram às paradas?
Hook - Toda a cena tecno favorece uma redescoberta do New Order. Muito desse estilo já estava presente nos nossos discos.
Folha - Você acredita que o tecno vai acabar com o rock?
Hook - De certo modo. Acho que os discos de rock vão continuar sendo gravados, como até hoje são gravados discos de valsa. Mas a cena rock, as revistas, as rádios, isso pode acabar.
É que hoje a imprensa tem pessoas de 30 ou 40 anos, que cresceram ouvindo rock. Essa moçada que ouve tecno hoje e vai estar escrevendo daqui a 10 ou 20 anos não liga para a carreira das bandas.
Folha - Não existe uma nova geração de ídolos, como Prodigy, Underwold e Chemical Brothers?
Hook - Esses garotos não têm mais ídolos. Eles podem ouvir o Underworld e gostar, mas não se preocupam em saber a história da banda, pendurar seu pôster na parede do quarto, essas coisas.
É a valorização exclusiva da música, sem estrelismos. E acho que o New Order foi precursor disso, porque a gente não colocava fotos na capa dos discos, não tinha preocupação com roupas, cabelos...
Folha - Já que é um iconoclasta, há alguém que você admire?
Hook - Claro, um monte de gente. Gosto do Spiritualized, do Seahorses. O Prodigy não me empolga, acho juvenil demais. E Noel Gallagher é um músico muito talentoso. Torço para que o Oasis acabe logo e ele faça coisas mais criativas. Por enquanto, ele está só brincando de ser John Lennon.

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