São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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EUA expõem 20 anos de Tunga

GEORGIA LOBACHEFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Depois de participar da Documenta de Kassel, na Alemanha, o artista brasileiro Tunga inaugurou no final do mês passado a primeira exposição panorâmica nos EUA.
Com trabalhos dos últimos 20 anos, a exposição itinerante começa no museu do Centro para Estudos Curatoriais Bard College, do Estado de Nova York, e viaja em dezembro para o Museu de Arte Contemporânea de Miami.
Em seguida, parte para o Museo Alejandro Otero, em Caracas, na Venezuela.
Apesar de visualmente atraente, o trabalho de Tunga pode ser considerado bastante hermético. O artista pretende subverter a noção de espaço por meio da criação de peças não fragmentadas, ou seja, esculturas de formas completas.
Filosofia à parte, mais interessante que a noção de espaço em seu trabalho é a operação barroca claramente identificável pelos desdobramentos de uma obra em outra, formando um conjunto contínuo e infinito.
Em meio à instalação de sua exposição, Tunga falou à Folha.
*
Folha - É a primeira vez que você vê grande parte de seus trabalhos reunidos. Isso possibilita que tipo de visão do artista em relação à sua produção?
Tunga - A maioria das peças foi pensada e concebida em um programa. É implícito que apareçam juntas e formem uma totalidade. Há uma abordagem sinfônica da obra. É um prazer ver tudo junto.
Folha - Como foi sua experiência na última Documenta de Kassel?
Tunga - A Documenta privilegiou uma certa produção brasileira que finalmente começa a aparecer e se tornar surpreendente para aqueles que estavam com tapa-olhos em relação à arte no Ocidente.
A Documenta mostrou que o fazer artístico é muito maior que o umbigo da Europa ou dos EUA. Eles estão tentando olhar em torno do umbigo um pouquinho mais longe, mas ainda é muito próximo para meu gosto.
O trabalho da curadora Catherine David é exemplar ao mostrar que as alternativas da cultura não são as alternativas que se pretendiam nos anos 70, sobretudo em artes plásticas, quando o modelo era baseado no pensamento marxista e o campo da arte estaria encerrado na integração entre galerias, museus, crítica, curadoria, artistas e amantes da arte.
O campo da arte é o campo da poesia e esse território é muito mais amplo que o território institucional. A Documenta foi um grande encontro de artistas, todos trabalhando despreocupados com a carreira, com os museus e as galerias, trabalhando a obra.
Eu sempre digo que quem precisa de artista é o museu. O artista não precisa do museu. O que é o museu senão a glória da pilhagem da sociedade? Você faz uma guerra, pilha seu inimigo e depois coloca as obras num museu.
Com o tempo, pretende mostrar aquilo tudo, a cultura do outro, de forma didática.
Folha - Essa exposição já tem data em algum museu brasileiro?
Tunga - Por enquanto, o Brasil só manifestou o desejo, mas não existe nada concreto.

Exposição: Tunga: 1977-1997
Quando: até 23 de novembro, de qua a dom, das 13h às 17h
Onde: Center for Curatorial Studies Bard College (Annandale-on-Hudson, Nova York)
Quanto: grátis

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