São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Piano vira atabaque de panamenho

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

Thelonious Monk costumava dizer que todos se esqueciam que o piano também é um instrumento de percussão.
O panamenho Danilo Perez demonstrou anteontem em exibição brilhante no Bourbon Street que nem todos pularam as páginas em que o mestre do bebop gravou essa lição.
E na performance do pianista de 31 anos no Free Jazz ficou transparente que não foi só chamar o piano de atabaque que Perez aprendeu com a música de Monk (1917-1982).
As composições do criador de "Round Midnight" também brilharam nos shows de Art Farmer e da Mingus Big Band.
Mas nenhum deles soube, da maneira como Perez fez, apresentar o cubismo intrínseco nos temas de Monk.
Se houvesse apenas recriado a multifacetada sonoridade do compositor, o panamenho já mereceria espaço no panteão jazzístico.
Mas ele foi além, e misturou temperos latino-americanos ao piano de Monk -o título da "música ápice" do show é "PanaMonk", mesmo nome de seu primeiro CD.
Acompanhado de dois instrumentistas da mesma cepa que a sua, o baterista Jefferson William Ballard e o contrabaixista Charles Fambrough, Perez apresentou o que chamou de "Thelonious Monk com arroz e feijão".
O espetáculo, que teve desde uma balada do porte de "Smoke Gets in Your Eyes" até a canção tradicional panamenha "Rosalina", terminou com funk.
Esse foi o mesmo desfecho da apresentação anterior à de Danilo Perez.
O quarteto do saxofonista Donald "Duck" Harrison trouxe ao Free Jazz uma sonoridade cristalina. Dono de um timbre elegante, que ele já apresentou ao lado dos lendários Jazz Messengers do baterista Art Blakey, Harrison passeou por diversos gêneros do jazz.
Andou pelo bebop bem trabalhado de Charlie Parker, em sua composição "Cristopher Jr." -nome que ficava entre Charlie e Parker na identidade do saxofonista-, cruzou com a tradição do Mardi Gras -espécie de carnaval de Nova Orleans, terra onde ele nasceu- e terminou com a sua "música-manifesto" "Nouveau Swing" -ritmo que ele talhou fundindo o funk ao som dos anos 50.
A saborosa apresentação do saxofonista só tropeçou em uma música. A "futurista" "New Hope", do próprio Harrison, deixou no Bourbon Street um gosto amargo de Kenny G.

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