São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Campanha na Argentina vira bate-boca

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

Os eleitores argentinos, que no dia 26 irão às urnas para renovar metade da Câmara dos Deputados, estão presenciando uma verdadeira batalha verbal entre o presidente Carlos Menem e os candidatos da oposição.
Idéias políticas e econômicas sobre o futuro do país não estão sendo debatidas. Nos últimos dias, Menem iniciou uma série de ataques sistemáticos contra os principais representantes da aliança eleitoral de oposição, formada pela UCR (União Cívica Radical) e pela Frepaso (Frente País Solidário).
O alvo mais recente de Menem é o ex-presidente Raúl Alfonsín (UCR), que governou a Argentina entre 1983 e 1989 e foi o seu antecessor. Em um ato de campanha, Menem acusou o governo de Alfonsín de ser "o mais corrupto" da história do país, dizendo que havia "corrupção na área econômica".
Alfonsín reagiu e disse que Menem precisa ser "investigado" após o término do seu mandato, previsto para 1999. Disse ainda que todas as contas do seu governo foram aprovadas pelo Congresso, mesmo sem ter o apoio da maioria dos parlamentares.
Menem devolveu a crítica e publicou um texto no jornal "La Nacion" afirmando que a administração de Alfonsín foi marcada por uma "corrupção pavorosa".
Metralhadora giratória
Também foram atacados por Menem os principais candidatos da aliança opositora que fazem campanha na cidade e na Província de Buenos Aires.
Sobre Graciela Fernández Meijide (Frepaso), uma senadora de 64 anos que é considerada pré-candidata à sucessão presidencial de 1999, Menem afirmou que ela "não passa de uma boa dona-de-casa".
Sobre Rodolfo Terragno, que também é presidente da UCR, lembrou que "ele não fez nada" quando era ministro da Economia no governo radical e que se "ajoelhou" para pedir o início antecipado do seu governo -Alfonsín deixou a Presidência seis meses antes do tempo previsto.
Terragno respondeu aos ataques de Menem dizendo que "o presidente deve reassumir suas funções de chefe de Estado, pois a Argentina está sem comando".
Graciela Meijide, por sua vez, foi defendida por sua adversária na campanha, Hilda "Chiche" Duhalde, que no Partido Justicialista trava uma disputa interna com os "menemistas".
"Para mim, nada melhor que ser dona-de-casa. Gosto de estar com minha família e com meus filhos", afirmou "Chiche" Duhalde.
A Folha apurou que os ataques iniciados por Menem constituem uma estratégia traçada pelo próprio presidente: polarizar a campanha entre sua figura e a de Alfonsín.
A idéia é relacionar a aliança com a hiperinflação (5.000% no último ano da administração Alfonsín), em contraste com a estabilidade econômica do seu governo.
Publicamente, Menem tem outra explicação para seus ataques: "Se me provocam, eu respondo."
Receita
Outra arma de Menem, além dos ataques verbais, é a Receita Federal. Ela está realizando uma verdadeira operação "pente fino" no país, revelando casos de sonegação fiscal de pessoas famosas da sociedade.
Um de seus alvos é o técnico da seleção nacional de futebol, Daniel Passarela. Ele está sendo acusado de evadir impostos ao subfaturar em US$ 150 mil a compra de um iate. A embarcação foi comprada em maio do ano passado, mas só agora a investigação foi revelada.
Anteriormente, os fiscais da Receita já haviam concentrado esforços no casal Fassi Lavalle, famoso na sociedade argentina e politicamente ligado ao governo Menem.
Até agora, nenhum desses investigados foi preso ou detido. A oposição acredita que a operação "pente fino" da Receita acabará após as eleições do próximo dia 26.

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