São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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O CUSTO DA TRAGÉDIA DA AIDS

Pode parecer questão menor discutir o custo econômico do tratamento dos doentes de Aids e dos infectados pelo HIV. A síndrome é fatal, e as doenças a ela associadas provocam sofrimentos terríveis para seus portadores. Só neste ano o Brasil deve contar mais 16 mil doentes de Aids.
No entanto, é imprescindível considerar essa questão. Os recursos são finitos, há muitos outros males para tratar e, de resto, imprimir racionalidade econômica à discussão permite que se criem condições mais favoráveis para atender melhor os doentes.
Segundo estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os gastos públicos na compra de remédios e no tratamento dos doentes de Aids devem chegar a R$ 1 bilhão neste ano, o equivalente a 5% do orçamento do Ministério da Saúde.
O governo previu que atenderia 36 mil doentes em 97, mas, como uma lei do final de 96 passou a assegurar remédios para todos, o número de pessoas que os reivindicam já passa de 50 mil. Estudo do Ipea estima que cerca de 400 mil pessoas podem estar infectadas no Brasil. Para atender a todas elas, o setor público teria de gastar cerca de R$ 2,5 bilhões.
No curto prazo, não há como alterar esse quadro. Mas, se não forem tomadas medidas imediatas -que já serão tardias-, a situação deve se tornar inadministrável. As providências são conhecidas: programas mais eficientes de prevenção. A infecção entre homossexuais -grupo considerado mais sensível às campanhas educativas- representava 60% dos casos conhecidos da doença há dez anos. Essa taxa caiu para 23%.
A doença no Brasil hoje avança de grandes cidades para pequenas, dos centros urbanos para as periferias, entre heterossexuais e usuários de drogas injetáveis. Aliás, em São Paulo, os municípios onde grassa a epidemia são os que estão na rota do tráfico de cocaína. Existem, pois, elementos para atacar diretamente o mal, dando atenção especial às regiões e aos grupos entre os quais ele mais se difunde. Parece razoável exigir que o poder público, de posse desse mapa da epidemia, invista na prevenção, básica para um enfrentamento real e eficiente da moléstia.

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