São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

USP, TESES E COMPADRIO

A USP resolveu alterar o método de avaliação de teses de mestrado e doutorado, extinguindo o sistema convencional, com notas até 10. Os trabalhos passam a ser apenas "aprovados" ou "reprovados".
Vista isoladamente, a alteração parece apenas cosmética. Uma mudança significativa deveria considerar os critérios de seleção dos pós-graduandos, as disparidades de nível entre os cursos e os métodos de composição das bancas de exame.
Pelo sistema de notas anterior, as unidades da USP mais exigentes acabavam sendo paradoxalmente prejudicadas por ser mais rigorosas na concessão de notas; as menos severas apareciam com destaque nas estatísticas. Se a mudança elimina essa distorção, deixa intactos os problemas de fundo e contribui para amesquinhar todo o debate. Em que pesem as supostas boas intenções de tentar equalizar os conceitos de avaliação, a USP pode estar criando uma situação mais confortável para a mediocridade intelectual.
Sabe-se que, em alguns cursos, muitas defesas de tese são rituais meramente formais, viciados por práticas de favores, compadrio e corporativismo. Hoje, a composição da banca de examinadores é uma atribuição do orientador, que escolhe aqueles que deverão julgar seu orientado. Trabalhos acadêmicos, que deveriam ser apreciados segundo critérios de impessoalidade e mérito, podem continuar subordinados a interesses de grupos e panelas.
O aprimoramento da pós-graduação passa necessariamente pelo combate feroz ao compadrio, por uma política de bolsas que contemple interesses exclusivamente acadêmicos e pelo acompanhamento rigoroso de cursos e métodos de composição de bancas de examinadores.
Tal como foi proposta, a reforma ajuda a esconder os medíocres sob o rótulo igualizador de "aprovado", o que não parece adequado a uma instituição empenhada em aumentar sua qualidade e rebater críticas que recaem há décadas sobre o ensino superior, ainda mais no caso da USP, o maior centro universitário do país.

Texto Anterior: O CUSTO DA TRAGÉDIA DA AIDS
Próximo Texto: CIDADE DESFIGURADA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.