São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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"Nova ordem global não deve ser imposta", diz FHC

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso se preparava ontem para dizer em público a seu colega dos EUA, Bill Clinton, que "a nova ordem global não pode ser imposta, mas compartilhada; não deve ser espoliadora, mas promotora do bem estar da humanidade".
No discurso para saudar Clinton, em coquetel no Itamaraty, FHC pretendia fazer diversas alusões às diferenças que separam EUA e Brasil em relação à estrutura que vai reger o comércio internacional.
"Nossos interesses legítimos muitas vezes não coincidem inteiramente. Ou mesmo são concorrentes. Mas, hoje, podemos lidar com essa realidade melhor do que jamais na história", diria FHC.
Temas referentes a comércio vão ser abordados hoje por Clinton e FHC só em seus encontros reservados. Os dois vão reafirmar um ao outro suas posições atuais.
O Brasil quer ir devagar com a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), prevista para ser implantada em 2005.
Os EUA gostariam que antes dessa data alguns acordos preliminares continentais estivessem negociados e talvez até em vigor.
Mas Clinton vem em posição fraca para fazer pressões sobre o Brasil porque a legislação que lhe daria desenvoltura para negociar acordos comerciais está emperrada no Congresso, sob vigorosa oposição de seu próprio partido.
Clinton desembarcou ontem em Brasília às 19h40. Foi direto para o Itamaraty, onde ouviria o discurso não muito afável de boas vindas de FHC, e depois para um pequeno jantar no Palácio do Alvorada.
O discurso de FHC também previa referências veladas à controvérsia que precedeu a chegada de Clinton. Ele diria que o presidente dos EUA "poderá ter uma visão mais completa do que é o Brasil da democracia consolidada, da cidadania forte, da transparência no manejo do patrimônio público, da estabilidade, das reformas, da abertura e do crescimento".
Documento do Departamento do Comércio dos EUA disponível na Internet afirmara que existe "corrupção endêmica" no Brasil.
A visita de Clinton vai marcar a celebração de diversos acordos e memorandos de entendimento entre EUA e Brasil. O de educação vai permitir a expansão do intercâmbio de estudantes, professores e experiências pedagógicas entre os dois países. Um fórum com a participação de entidades brasileiras e norte-americanas vai concretizar as ações desse memorando.
Um acordo de assistência judiciária vai ampliar a cooperação entre as polícias e as justiças dos dois países em casos de crimes que envolvam seus cidadãos. O contrabando de armas dos EUA para uso pelo crime organizado no Brasil será um dos pontos prioritários.
Ainda no acordo judiciário, será estabelecido o reinício da cooperação dos EUA com o Brasil no campo do narcotráfico, menos com dinheiro e mais com assistência à prevenção, educação e terapia.
Na área de ciência e tecnologia, vai ser definida a participação do Brasil no programa da estação espacial dos EUA. No setor ambiental, será firmado um convênio entre os parques nacionais do Everglades (Flórida) e Tocantins.
Também vai ser estabelecido que haverá maior cooperação entre os dois países para explorar fontes "limpas" de energia. Um acordo "guarda-chuva" abrangerá várias formas de cooperação nuclear para fins pacíficos, inclusive a radiação de alimentos e uma eventual retomada pelo Brasil de projetos de geração de energia nuclear.
Ainda haverá um memorando de entendimento referente a cooperação dos dois países no âmbito de reforma do Estado e modernização da administração pública.
Entre os temas que serão conversados em particular por Clinton e FHC estão: o futuro Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e a conjuntura política internacional na América Latina.

LEIA a íntegra do pronunciamento de FHC à pág. 1-6

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