São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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Ministro critica declarações de Franco

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, considerou "indevidas" as declarações do presidente do Banco Central, Gustavo Franco, a favor do ensino pago em universidades públicas.
O secretário de Ensino Superior do MEC, Abílio Baeta Neves, afirmou que é uma "bobagem" achar que o pagamento de mensalidade poderia ajudar a financiar outras áreas da educação.
Franco disse em entrevista à Folha, publicada anteontem, que "não tem cabimento esse tipo de gratuidade para a elite", se referindo às universidades públicas.
Em sua opinião, "esses recursos poderiam estar sendo utilizados na bolsa-escola ou em qualquer outro programa com benefício um pouco mais extenso".
No mesmo dia, o ministro da Educação rebateu a idéia em entrevistas em São Paulo. "Eu nunca opinei sobre política de juros ou câmbio, que é uma atribuição das autoridades do Ministério da Fazenda", afirmou em entrevista publicada ontem no jornal "Correio Braziliense", de Brasília.
"Pessoalmente, tenho idéias sobre uso de parte dos depósitos compulsórios dos bancos junto ao BC, eles poderiam ser destinados para crédito educativo. Contudo, nunca levei essas sugestões adiante porque avaliei que não era apropriado. Os comentários poderiam ficar restritos ao âmbito interno do governo. Foram colocações indevidas, no mínimo indelicadas."
Segundo Souza, o pagamento de mensalidade em universidade pública não é política do governo. Ontem, procurado pela Folha, ele não quis comentar o assunto.
Em entrevista ontem à rádio CBN, Franco afirmou que sua opinião foi um "palpite". "Convivi muito com a realidade da universidade brasileira, que tem 90% de pessoas em condições muito favoráveis para pagar seus estudos e, no entanto, têm uma gratuidade."
"Não estou fazendo nenhuma proposta, apenas um comentário, até porque o ministro Paulo Renato está conduzindo muito bem os assuntos da educação", disse.
Para o secretário de Ensino Superior, Abílio Baeta Neves, a proposta de Franco é uma "bobagem" porque os estudos feitos até agora mostram que a cobrança de mensalidade de quem pode pagar permitiria arrecadar cerca de 10% (R$ 300 milhões) do orçamento das universidades: "É uma soma importante, mas que teria de ser reinvestida nas universidades".
O presidente da Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior), Tomaz Aroldo da Mota Santos, disse que não há só elite nas universidades públicas: "A universidade representa os diversos segmentos da sociedade. Me causa estranheza que autoridade de um banco esteja falando de aspectos relevantes da educação".

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