São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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Saxofonista fecha evento com show sem concessões

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Foi um belo final de festival. Comemorando 70 anos, exatamente na madrugada de ontem, o saxofonista Lee Konitz fechou o 12º Free Jazz com um concerto inesquecível para quem aprecia o jazz sem concessões.
Se, na noite anterior, Pharoah Sanders tinha frustrado seus fãs, por extirpar o jazz de vanguarda de seu repertório, Konitz entrou no palco do Bourbon para provar que a chama da liberdade absoluta continua viva no jazz dos anos 90.
Dizer que foi um concerto acústico não explica tudo. Radical, Konitz dispensou até mesmo os microfones para improvisar junto com seu trio, que destaca o contrabaixo acústico de Mark Johnson e a bateria de Jeff Williams.
Postado no fundo do palco, o rebelde saxofonista já dava a entender que muitas convenções do gênero não teriam vez no show.
A inversão de papéis prosseguiu no solo de Mark Johnson. Depois de um breve improviso, finalmente, o contrabaixista apresentou toda a melodia da canção, provocando os sorrisos do público.
"Autumn Leaves" (de Mercer e Kosma), número seguinte, tam bém veio sem a apresentação do tema, com Konitz explorando a região mais aguda de seu sax alto e a bateria de Williams improvisando livremente, sem qualquer preocupação em marcar o ritmo regular (aliás, como tocou o tempo todo).
Outra clássica canção norte-americana serviu para um dos momentos mais inusitados do show. Konitz pediu que a platéia entoasse por cinco minutos uma mesma nota.
Sobre ela, improvisou "Alone Together" (Dietz e Schwartz), incluindo uma suave exibição de "scat" (vocais sem palavras). Já em "Body and Soul", o fato de ter improvisado mais próximo da melodia original parece ter animado um gaiato, que começou a assobiar a canção, no meio do público.
"Chega de assobio. Arrume sua própria banda", cortou Konitz, sem perder a elegância. O "set" terminou com "All the Things You Are"(Hammerstein e Kern), numa versão típica do bebop mais radical, em que a melodia foi solenemente jogada às traças pelo trio.
Quando já começava a tocar o bis, foi Konitz o surpreendido. Carregando um bolo de aniversário, Zuza Homem de Mello, assessor do festival, entrou no palco para homenagear o novo septuagenário, seguido pelo coro de "Parabéns a Você".
Por tudo que mostrou, no brilhante (e radical) encerramento do Free Jazz, Konitz mereceria o bolo e muitos parabéns, mesmo que não fosse seu aniversário.

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