São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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"Dei pulos de algeria", diz brasileira

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A soprano Céline Imbert estreou em 1987 numa antológica "Carmen", no Municipal do Rio de Janeiro. Cantou por cinco anos e depois sumiu. "Perdeu a voz", comentaram seus admiradores.
Não perdeu. Enfrentou problemas técnicos que afirma ter superado. Leia os principais trechos de sua entrevista.
(JBN)
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Folha - Por que a sra. parou de cantar durante tanto tempo?
Céline Imbert - Ocorreu uma constelação de fatores. Eu havia mudado de técnica vocal, mas acabei percebendo que deveria voltar a cantar conforme havia aprendido com minha primeira professora. Ao mesmo tempo, eu me mostrava inconformada com o sistema de contratação que exigia audições entre as candidatas a cada papel.
Folha - Para "Tosca", a sra. passou uma audição?
Imbert - Sim, lógico. Dei pulos de alegria quando fui aprovada.
Folha - A mudança inicial de técnica procurava fazê-la uma soprano lírica, e não dramática?
Imbert - Talvez. Mas não deu certo. Demorei para descobrir. Eu cheguei a acreditar que tinha deficiências, que o problema era meu. Técnica é uma coisa anatômica. Os cantores precisam procurar a sua técnica. Se tivessem todos a mesma, cantariam do mesmo jeito.
Folha - Há algum papel em sua carreira que não poderia ser cantado da mesma forma?
Imbert - Eu não faria novamente, como fiz, "Suor Angelica" e "Madama Butterfly", ambas de Puccini. Nestes últimos anos precisei recusar papéis. Deixei de aceitar convites para me apresentar nos Estados Unidos. Foi um momento muito difícil para mim.
Folha - A sra. teve algum problema sério de auto-estima?
Imbert - Muito... Comecei a me sentir em total decadência. Tive de me apoiar em bons amigos, boas leituras. Foi muita persistência e obstinação para voltar à tona. Resolvi então estudar com minha primeira professora. Sinto que estou sendo novamente o que era.
Folha - A carreira lírica é difícil?
Imbert - Sem dúvida, sobretudo nas circunstâncias em que vivi. Havia a percepção de fragilidade. Qualquer coisa é capaz de nos derrubar. E é também muito difícil voltar, levantar-se muito devagar.
Folha - Qual a semelhança entre "Carmen" e "Tosca"?
Imbert - Tenho pensado muito nisso. Dez anos separam os dois papéis. E ambos são de mulheres muito fortes, de garra e vontade. Há em "Tosca" uma dramaticidade de atuação. É preciso criar o personagem. Entre as duas, há dez anos de vida e carreira.
Folha - Seus planos, agora?
Imbert - Talvez fique pronto, para o ano que vem, um musical, "Velas ao vento", que estou já há algum tempo preparando com o Naum Alves de Souza.

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