São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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ATRÁS DO DINHEIRO NOVO

Não existe modelo único de privatização. Aliás, no Brasil, ainda há tempo de aprimorar o processo.
A imposição de limites à participação de bancos e fundos de pensão, tendência mais recente do governo federal, é um sinal de que as autoridades estão atentas ao problema.
O setor bancário contribuiu com 15% dos recursos obtidos até agora com privatizações. Para o BC, há exposição excessiva dos bancos a operações de baixa liquidez, como supostamente é a compra de uma estatal mineradora ou energética.
O argumento é tecnicamente duvidoso. A privatização melhora as empresas em quase todos os casos. Trata-se, pois, de um bom investimento, que valoriza as ex-estatais, ainda que, em certos casos, dependa de maturação mais longa.
Aliás, se o governo está de fato preocupado com a exposição dos bancos a empreendimentos produtivos, caberiam então restrições de ordem mais geral. Justificar uma limitação apenas na privatização é um argumento duvidoso.
No entanto, mesmo sendo frágeis as razões do discurso oficial, a limitação à participação dos bancos nas privatizações pode ser até conveniente. Mas por outros motivos.
É preciso reconhecer que há vantagens em atrair dinheiro não apenas novo, mas estrangeiro. Aliás, a discussão do papel dos fundos de pensão também é oportuna, pois, como controlam certas empresas, fazem com que o Estado continue a atuar na área produtiva, ainda que indiretamente: esses fundos são de certa forma subordinados ao governo.
Levando-se em conta que o plano de estabilização brasileiro depende fortemente da entrada contínua de capitais externos, limitar a participação de capitais domésticos na privatização é uma forma de tentar atrair esses recursos cruciais para a sustentação da âncora cambial.
É a busca de dinheiro de fora, mais que o temor de iliquidez, que parece animar essa idéia de reformar o modelo brasileiro de privatização.

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