São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997 |
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O real Fla x Chicago Bulls
CLÓVIS ROSSI São Paulo - O jogo entre o Flamengo (os brasileiros) e o Chicago Bulls (a visita do presidente Clinton) resvalou um bocado para o ridículo, ante o orgasmo nacionalista vivido por personalidades e parte da mídia locais.Entre fuzis, controle do espaço aéreo, a água mineral que a comitiva trará, o combate aos mosquitos exigido dos brasileiros, para evitar que a sensível epiderme "gringa" vire pipoca, perdeu-se o essencial: não é durante a visita de Clinton que o jogo entre o Flamengo e o Chicago Bulls se decide. É antes e depois. O verdadeiro jogo foi explicitado em carta que os presidentes dos comitês de relações exteriores das duas Casas do Congresso norte-americano enviaram a Clinton e que esta Folha reproduz hoje. Pedem, direta e abertamente, que Clinton pressione FHC para que o Brasil abra seu mercado de fibras e cabos óticos. Devolvem, na mesma moeda, a pressão que o governo brasileiro vem fazendo, há tempos, para que os EUA abram seus mercados de produtos agrícolas, de suco de laranja, de aço etc. para a produção brasileira. A pressão vem sendo absolutamente inútil, como suponho que será igualmente um pedido de Clinton a FHC no caso das fibras óticas. Mas, de todo modo, a carta é eloquente a respeito de como se faz diplomacia hoje, depois que o fim da Guerra Fria sepultou disputas ideológicas. É pressão comercial de um lado, respondida por pressões comerciais do outro. A diferença está no fato de que a pressão norte-americana é dez vezes superior à que o Brasil pode fazer, levando-se em conta a desproporção entre as duas economias. Ainda assim, a diplomacia brasileira resiste bravamente e negocia com uma dureza que os norte-americanos julgam exasperante. Suspeito que o chamado interesse nacional estará muito mais bem defendido enquanto for assim do que se o Brasil obrigasse Clinton a subir a pé o morro da Mangueira. Texto Anterior: ATRÁS DO DINHEIRO NOVO Próximo Texto: Punhos de Renda x Tyson Índice |
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