São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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Clinton diz a FHC que apóia Mercosul

Fernando Henrique diz ter compromisso com Alca

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton tentaram ontem administrar as diferenças que separam Brasil e EUA em temas referentes a comércio.
Clinton disse que não tem intenção de impor aos brasileiros o que chamou de "falsa escolha" entre o Mercosul e a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). "Eu apoio o Mercosul. Ele tem sido muito bom para os EUA também", disse ele, referindo-se ao aumento das exportações norte-americanas para os países do Cone Sul desde a criação do Mercosul.
FHC afirmou que o Brasil está comprometido com a idéia de formação da Alca até 2005 mas que a integração continental não vai se dar em detrimento nem do Mercosul nem do Nafta e que o país não vai abandonar sua tradição de "global trader" (comerciante global). A partir desses pressupostos, o Brasil vai negociar a Alca.
Mesmo se o presidente Bill Clinton não obtiver a autoridade do "fast track' (via rápida), para fechar acordos de livre comércio que o Congresso só poderá aprovar ou rejeitar por completo. "A integração (do hemisfério) interessa, independente das condições políticas, que apenas podem atrasá-la ou apressá-la", afirmou FHC.
Quanto às barreiras à entrada de produtos brasileiros no mercado norte-americano, Clinton disse que ele e FHC resolveram dar instruções a seus subordinados para que esses temas sejam solucionados "o mais depressa possível".
"Esses problemas já estão demorando muito, estão irritando os dois países, fazendo mal às relações entre eles". Os EUA impõem restrições à importação de vários produtos brasileiros, como suco de laranja, têxteis e aço.
FHC disse considerar normais que haja atritos como esses entre países grandes e com amplas pautas de exportação. "Muitas vezes, as diferenças entre países são só diferenças entre interesses específicos de países", ponderou. Mas alertou que, "em algum momento deve haver algum tipo de arbitragem" (em referência à possibilidade de o Brasil recorrer à Organização Mundial do Comércio para resolver alguns desses problemas).
Em resposta a pergunta da Folha sobre a crescente aproximação entre Mercosul e União Européia, Clinton disse que, se fosse brasileiro, "também tentaria vender tanto quanto pudesse para os EUA, para a Europa, para qualquer lugar. É assim que se trabalha".
Tudo o que os EUA querem, afirmou, é "oportunidade justa para competir". Se existir essa oportunidade e os produtos norte-americanos não ganharem o Mercosul, "a culpa não será de vocês nem dos europeus, será nossa".
O argumento de Clinton deixou FHC satisfeito: "Essa resposta nos ajuda". Ele afirmou que "quanto mais competição, melhor". Reafirmou que o Brasil vai continuar comerciando muito com a Europa e que, no caso dos EUA, ele quer que a balança de comércio entre os países se equilibre com um aumento das exportações do Brasil.
Sobre os problemas específicos de comércio entre Brasil e EUA, Clinton ainda disse que o seu número é "relativamente pequeno" em relação ao volume de comércio entre os dois países e ressaltou que os EUA fazem menos restrições a importação que a União Européia.
FHC disse que, para ele e Clinton, a integração hemisférica não se reduz a comércio. "Ele é mais amplo, depende de relações políticas, embasadas em valores."
Como prova disso, FHC citou a "parceria para educação" entre Brasil e EUA, firmada ontem por ele e Clinton. Eles dizem achar que essa parceria vai ajudar a desenvolver a economia e distribuir melhor a riqueza nos dois países.
Para Clinton, a integração hemisférica também vai ajudar a consolidar a democracia em todo o continente americano. "É importante que o Brasil assuma a liderança desse processo".

LEIA a íntegra dos pronunciamentos dos dois presidentes à pág. 1-14.

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