São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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Arte/Cidade revê ruínas sobre trilhos

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Daqui a dez dias, um novo trem vai percorrer a cidade. É o trem do projeto Arte/Cidade 3, que promoverá uma série de intervenções artísticas pelos cinco quilômetros de trilhos, entre a estação da Luz e as antigas indústrias Francisco Matarazzo (Pompéia), com uma parada nos antigo Moinho Central (Barra Funda).
A região é uma das áreas mais deterioradas da cidade e perdeu sua importância econômica a partir da decadência do transporte ferroviário e de suas atividades produtivas. "As indústrias se foram, mas deixaram uma chaga na cidade", disse o produtor cultural Nelson Brissac Peixoto, responsável pelo evento, que será realizado de 25 de outubro a 30 de novembro e tem orçamento de R$ 4 milhões.
Serão apresentados trabalhos de mais de 30 artistas plásticos, fotógrafos, arquitetos e cineastas, como Ângelo Venosa, Cildo Meirelles, Flávia Ribeiro, Nelson Félix, Paulo Pasta, Cao Guimarães, Willi Biondani, Joel Pizzini e outros.
"Essas intervenções não vão anexar essas áreas deterioradas novamente ao tecido urbano. Nosso trabalho foi extrair dessas ruínas a força que aponta para o futuro", disse Brissac Peixoto.
O novo trajeto artístico será percorrido por quatro vagões, ligados a duas locomotivas, que circularão em um vaivém pelo trajeto. Os vagões recuperam as formas e cores do construtivismo russo e são semelhantes aos trens utilizados nos anos 10 e 20 para difundir a ideologia comunista.
"O projeto foi além da epiderme dos espaços e entrou em suas estruturas. Também deu muito trabalho adequar os espaços à visitação pública, mas sem higienizá-los. Corríamos um risco de museificar as ruínas. Nada aqui é cosmético", disse Brissac Peixoto.
O desejo de estabelecer um diálogo entre o que/quem está dentro e o que/quem está fora dessas estruturas está presente no trabalho do arquiteto Ruy Ohtake, que criou um balão de gás hélio que partirá de uma base espelhada no solo e se ligará a uma das chaminés das indústrias Matarazzo. A base trará imagens de fora para dentro e será o único ponto das indústrias visível na estação da Luz.
José Spaniol, por sua vez, construiu uma estrutura de quatro paredes com quatro metros de altura por 50 centímetros de largura em técnica de taipa de pilão (terra, areia, cal e estabilizante), que servirá como um mirante. "A impressão mais forte sempre foi olhar o lugar e ver as paisagens. Decidi fazer um trabalho que privilegiasse as vistas, as paisagens do lugar", disse.

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