São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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Refundação Comunista pôe fim à crise na Itália

MICHEL BOLE-RICHARD
DO "LE MONDE", EM ROMA

O premiê da Itália, Romano Prodi, vai voltar a ocupar definitivamente o cargo. Quatro dias depois obrigá-lo a renunciar, os neocomunistas aceitaram votar o projeto de Orçamento de Prodi, praticamente sem modificações. Amanhã, Prodi deve receber um voto de confiança, encerrando a crise batizada por ele como "a mais louca do mundo".
Se os comunistas não recuassem, a coalizão esquerdista da Itália ficaria em minoria, e Prodi deveria deixar o cargo -que ele estava exercendo interinamente, devido à crise. Na noite da segunda-feira, depois de reunir-se com o presidente Oscar Luigi Scalfaro, Prodi anunciou: "Estamos perto de um acordo. O país pode retomar sua marcha rumo à Europa". A notícia foi confirmada ontem por Fausto Bertinotti, secretário da Refundação Comunista.
Ainda não foram divulgados detalhes sobre os termos da reconciliação. Contrariamente ao que afirmaram na semana passada, os neocomunistas vão votar o projeto do orçamento de 1998 sem que seja submetido a modificações profundas. Serão feitos apenas alguns ajustes menores. Em troca, o governo aceitou redigir um projeto instituindo a semana de trabalho de 35 horas até 2001.
Em todo caso, Fausto Bertinotti concordou em apoiar o governo de centro-esquerda durante o ano de 1998 inteiro e aceitou as reformas. Esse é um passo importante para que a Itália possa adotarem a moeda única européia já em 1999.
Ainda restam dúvidas importantes sobre a maneira como as duas esquerdas vão resolver suas divergências, sobretudo com relação às modificações na Constituição e na lei eleitoral. Ontem, Scalfaro reempossou Romano Prodi em suas funções, e, quando o Executivo tiver obtido o voto de confiança do Parlamento, o governo inteiro poderá retomar seu trabalho.
Mas como explicar essa reviravolta? Teria Fausto Bertinotti medido mal os riscos? Querendo jogar alto, o secretário da Refundação se enganou. Ao constar que o país como um todo não desejava essa crise, engatou a marcha a ré.
Numa passeata em Assis no domingo, Bertinotti foi vaiado. Os sindicatos desaprovaram a ruptura que poria fim a uma experiência da esquerda. Os militantes da Refundação inundaram a sede do partido com mensagens de fax expressando seu descontentamento. Na própria direção do partido surgiram dúvidas quanto à sensatez de provocar a saída de um governo avaliado como bom.
O desafio dos neocomunistas ao poder assumiu ares cada vez mais evidentes de operação suicida, tanto assim que o Partido da Esquerda Democrática (PDS) decidiu recuar diante da pressão dos eleitores. No caso de eleições, as consequências da intransigência poderiam ter sido pesadas para a Refundação. "Não foi uma rendição, não foi uma derrota", afirmou Alfonso Gianni, braço direito de Bertinotti. "Vocês verão, foram feitas modificações importantes no Orçamento, e era justamente isso que queríamos."
Os detalhes do pacto servirão de resposta. O fim da crise foi saudada pela Bolsa de Valores de Milão, que subiu 2,83% na segunda-feira.
Enquanto isso, a oposição fala em "farsa". Silvio Berlusconi, dirigente da Força Itália, previu que "isso não vai durar", e Gianfranco Fini, presidente da Aliança Nacional, garantiu: "Ou Prodi ou Bertinotti vai ficar com a cara no chão".

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