São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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O trunfo da privatização

CELSO PINTO

Ninguém duvida que a privatização é o grande trunfo que o governo tem para cruzar alguns anos de dúvidas e instabilidades provocadas por grandes déficits externos.
Não é simples dizer quantos anos serão necessários para a transição, ou saber se ela levará, de fato, a uma trajetória sustentável. O que ficou mais fácil é imaginar qual poderá ser o tamanho da privatização, depois da aceleração recente das vendas.
Dois bancos reviram, recentemente, suas projeções para as receitas de privatização. O Paribas calcula que a privatização renderá US$ 55,7 bilhões entre 97 e 99, dos quais US$ 42,3 bilhões do governo federal e US$ 13,4 bilhões dos governos estaduais.
O Citibank, por sua vez, reviu a projeção até o ano 2.000 de US$ 80 bilhões para US$ 90,9 bilhões, dos quais US$ 64,9 bilhões do governo federal e US$ 25,9 bilhões dos governos estaduais. Além de somar mais um ano, o Citi inclui algumas receitas, como participações minoritárias, que o Paribas não considera.
Dos US$ 90,9 bilhões de receitas, o Citi calcula que US$ 32 bilhões virão do exterior, ajudando a fechar as contas. Deste total, contudo, apenas uns US$ 12 bilhões viriam como investimentos diretos, equivalentes a menos de 25% dos US$ 55 bilhões que seriam obtidos com a venda dos blocos de controle das empresas. Outros US$ 20 bilhões viriam em compras externas de ações minoritárias.
É um número impressionante mas, diluído em quatro anos, não resolve, sozinho, a equação externa. Apenas neste ano o déficit externo deve superar US$ 35 bilhões e ele vai crescer até o ano 2000.
O governo costuma lembrar, contudo, que as privatizações geram ondas de investimentos posteriores. Existe, portanto, também um impacto favorável indireto da privatização.
As projeções do Citi foram feitas considerando os resultados mais recentes de algumas privatizações (como a Coelba) e os modelos de venda hoje discutidos. Supõem, portanto, que o mercado acionário continuará positivo, aqui e no Exterior, e que não haverá grandes embaraços políticos ou legais que adiem algumas vendas. A lista, contudo, é realista.
Ele projeta uma receita de US$ 16,6 bilhões neste ano, dos quais US$ 10,5 bilhões dos estados e o resto do governo federal. De janeiro a setembro, a privatização já atingiu US$ 9,9 bilhões, dos quais US$ 5,3 bilhões vêm de vendas estaduais. O setor elétrico (US$ 3,7 bilhões) já ultrapassou o valor da Vale (US$ 3,3 bilhões).
O ano crucial para a travessia é 98, porque a eleição presidencial aumentará a incerteza sobre o futuro da política cambial. Não por acaso, o cronograma das privatizações concentra US$ 32 bilhões em 98. É tanto dinheiro que, como observa o Citi, coloca dúvidas se o mercado terá capacidade de absorver tudo sem problemas.
Para 99, a receita ficaria em US$ 29,4 bilhões e no ano 2000 sobrariam outros US$ 22,9 bilhões. As contas do Citi esticam o impacto da privatização além de 98, apenas com as vendas já programadas. Só a Petrobrás, se fosse incluída, poderia render, no mínimo, mais US$ 15 bilhões.
As empresas de telecomunicações podem ser as mais charmosas, mas a receita prevista com elas até o ano 2000, de US$ 20,6 bilhões, é menos da metade da receita prevista com o setor elétrico, de US$ 56,8 bilhões. A venda de participações minoritárias geraria mais US$ 8 bilhões, dos quais US$ 5 bilhões da Petrobrás.
Tudo isso, é bom repetir, pressupõe que o mercado continuará positivo. De todo modo, não dá para subestimar a importância da privatização para o governo ganhar tempo. A dúvida é saber se este tempo será bem aproveitado.
Números do MIT
A propósito da coluna de terça-feira, sobre o acordo tecnológico com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), de Boston, recebi um e-mail do professor Paulo Lima, da Unicamp, pós-doutorando no MIT. O orçamento do MIT em 96 foi de US$ 1,3 bilhão e não de US$ 120 milhões, como disse o secretário de Ciência e Tecnologia, Emerson Kapaz. Só o MIT, portanto, gasta o equivalente a 75% de todo o investimento do Estado de São Paulo em Ciência e Tecnologia.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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