São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997 |
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Em livro, Geisel critica Collor e Itamar
WILSON TOSTA
Resultado de entrevistas concedidas pelo general Geisel (1907-1996) à FGV principalmente entre julho de 1993 e abril de 1994, o livro, que tem um total de 494 páginas e será vendido a R$ 28, mostra que o ex-presidente, até o fim da vida, estava convencido da inadequação do sistema de eleições diretas para a escolha do presidente da República no Brasil. "O que deram as eleições diretas no Brasil? Collor e Itamar!", afirmou ele em conversas com a cientista política Maria Celina d'Araújo e com o antropólogo Celso Castro, do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas. Os dois organizaram o livro para publicação. "Incapaz" Geisel governou o Brasil de 1974 a 1979. Em seu período de governo, promoveu a distensão no regime militar, que, no governo seguinte (de João Baptista Figueiredo), virou a abertura sucedida pela redemocratização do país, ocorrida após 1985. Para Geisel, Collor era "um incapaz". Mesmo assim, o general contou que votou nele no segundo turno das eleições de 1989, contra o petista Luiz Inácio da Silva. No primeiro turno, Geisel havia votado no candidato Aureliano Chaves (PFL). Collor, para Geisel, "enganou o povo todo". O general disse que achou "muito bom" o impeachment que o derrubou em 1992. Senador de oposição Sucessor de Collor, Itamar Franco, na opinião de Geisel, ainda estava preso a seu passado de senador de oposição. As entrevistas do general, em sua maioria, foram realizadas durante o governo Itamar. O ex-presidente também criticou os processos de privatização e modernização do país. Para ele, alguns empresários pensam apenas no lucro fácil, e a modernização do Brasil é impossível enquanto persistirem problemas sociais graves, como o analfabetismo. Noite em claro Em suas recordações sobre o período em que governou o país, Geisel contou que não dormiu na véspera do dia em que demitiu o general Ednardo d'Ávila do comando do 2º Exército, em São Paulo. O motivo da demissão foi a morte de Manoel Fiel Filho em dependências de um órgão de repressão política. Geisel também recordou dificuldades que teve com militares quando decidiu reatar relações com a China, país comunista. "Se vocês querem ser coerentes, então vamos cortar relações com a Rússia também e vamos nos isolar, vamos virar mesmo uma colônia dos Estados Unidos", disse ele a ministros militares que resistiam à medida. Depoimentos Maria Celina d'Araújo disse que o ex-presidente, avesso a entrevistas, concordou em falar desde que não houvesse publicidade. Cedeu as transcrições, mas condicionou a publicação à decisão de sua mulher, Lucy. Leu as transcrições, fez acréscimos e releu os depoimentos em sua forma e ordem finais. Segundo a pesquisadora, Geisel se emocionou quando recordou o único filho homem que teve, Orlando, que morreu ainda adolescente em acidente. Ele também se comoveu ao lembrar a briga que teve com o irmão, também chamado Orlando, que fora ministro do Exército no governo de Emílio Médici, que antecedeu ao de Geisel. Texto Anterior: Será lançada hoje primeira campanha sem Betinho Próximo Texto: TRECHOS Índice |
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