São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997 |
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Entrevista exibe a face de Bergman
AMIR LABAKI
Durante quase uma hora e meia, um alegre e corado Ingmar Bergman depõe sobre vida e cinema em close, opção que nasceu da própria entrevista. Bergman reconhece a frustração de jamais ter podido rodar aquele seria um de seus experimentos mais radicais: um filme inteiro fixado no rosto de uma atriz. Chegou a escrever o roteiro ("A Human Affair", Um Caso Humano), mas Liv Ullman não topou. Bergdahl inspirou-se no projeto para estruturar "A Voz de Bergman". A câmera concentra-se na face do cineasta. Bergman aparenta bem menos do que os 80 anos que se prepara para completar. Mais: em nenhum momento justifica o estigma de sisudo. O filme desenvolve-se como "uma conversa em oito atos", rodada num só dia de janeiro último. Não segue a tradicional ordem cronológica -Bergman fala de improviso sobre temas genéricos. A súmula de sua visão sobre o cinema está no capítulo "A Insanidade do Filme". Ele revela-se estupefato com a resistência da magia do cinema, praticamente a partir das mesmas bases nas quais foi criado, há mais de um século. Bergman confirma-se como cinéfilo ainda militante. Não esconde sua predileção pela era muda e, citando Stravinsky, aproxima música e cinema. A força do não-verbal marca vários dos títulos que inclui entre suas predileções ("As Férias do Senhor Hulot", "Andrei Rublev"). Sabiamente, recusa-se a dar lições ou arriscar grandes sínteses. Por fim, reafirma o mistério dos grandes filmes. Decifrá-lo, porém, torna-se um pouco menos árduo, depois da mera contemplação da face do mestre. Texto Anterior: Documentários correm o mundo e seus ideais Próximo Texto: Yo-Yo Ma traduz obra de Bach em imagens Índice |
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