São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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Von Trier filma 9 horas de terror

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A mais sombria, estranha e longa excentricidade do diretor dinamarquês Lars von Trier. "O Reino", partes 1 e 2, oferece, durante quase nove horas de projeção, terror, um mergulho no kitsch, uma visão da incapacidade moral da ciência e, por fim, uma história de amor.
Realizado para a TV dinamarquesa, "O Reino" foi exibido em 1994 em quatro partes. Fez para Von Trier o que "Twin Peaks" havia feito para David Lynch: aproximou seu bizarro universo da classe média, em que sexo, culpa cristã e loucura dão o tom.
O sucesso foi surpreendente. A consequência direta, a realização neste ano de "O Reino - Parte 2". Mas, agora, com um Von Trier coroado pela unanimidade crítica em torno de "Ondas do Destino" (Breaking the Waves) -vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 1996.
"O Reino" pertence a um quase arquétipo das séries de TV norte-americanas. O hospital e o cotidiano de uma equipe que o habita.
Ao contrário de um "Plantão Médico", não é do acontecimento mundano que Von Trier arranca a dramaticidade. Seu hospital, em muitas formas, é sobrenatural.
Construído em um terreno onde antes vivia o supersticioso homem da idade média européia, "O Reino" (nome do hospital) é povoado não só por doutores, mas por fantasmas que, a todo momento, desafiam as certezas da tecnologia médica.
Ao lado dos espectros, uma fauna delirante: um residente que ri dos cadáveres durante uma aula de anatomia e é apaixonado por uma enfermeira mais velha; um famoso cirurgião culpado por inúmeros erros médicos ou, ainda, uma velha que inventa suas próprias doenças para estar em contato com os mortos.
Von Trier apresenta ao espectador o mundo banal recheado pelo inexplicável. Seu grande talento está em conseguir com que nos reconheçamos nele.
(MR)

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