São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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Retrospectiva resgata passado de Imamura

LÚCIA NAGIB
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O nome de Shohei Imamura é conhecido desde 1983, quando ele ganhou sua primeira Palma de Ouro em Cannes, com "A Balada de Narayama". O segundo prêmio no festival, alcançado neste ano com "A Enguia", ameaça agora emoldurar sua obra definitivamente entre essas duas distinções e enterrar seu passado.
A retrospectiva que a Mostra Internacional de Cinema apresenta pode ser um bom antídoto contra esse risco, ao revelar o poder impressionante de Imamura desde seus primeiros filmes.
Mas a impassividade crua de seu realismo irá se firmar em "Todos Porcos" (1961).
A partir daí, o sórdido, o crime, o incesto, o estupro, narrados com uma naturalidade quase banal, transformam-se em sua assinatura autoral.
"A Mulher Inseto", de 1963, é a apologia do instinto de sobrevivência feminino, filme tornado clássico sobre a difícil "ascensão" de uma camponesa à prostituição.
Mais dois estudos sobre sexo e incesto marcam a obra de Imamura: "Segredo de uma Esposa" e "Introdução à Antropologia", quase tão indispensáveis quanto "A Evaporação do Homem" (1967).
Nesse documentário, Imamura intervém no processo de formação do real, acompanhando a investigação sobre o desaparecimento de um homem.
A montagem descontínua e a metalinguagem desaparecem na fase posterior, colorida.
O desejo de alcançar um público maior não apaga, porém, a marca Imamura, sobretudo em "Minha Vingança", um belo ensaio sobre o instinto parricida.

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