São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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O Oriente expõe suas inquietações

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os binômios morte-vida e modernidade-tradição estão no centro de dois filmes asiáticos da safra internacional deste ano: "Hana-Bi", do japonês Takeshi Kitano, e "Keep Cool", do chinês Zhang Yimou.
É curioso como obras estilisticamente tão distintas (tragédia elíptica no primeiro, comédia frenética no segundo) podem partir das mesmas inquietações.
O sétimo longa de Takeshi Kitano inaugura a mostra paulistana depois de vencer o último Festival de Veneza.
No Brasil, Kitano ainda é mais conhecido como o sargento Hara de "Furyo, Em Nome da Honra" (1983), de Oshima. No Japão, é uma celebridade desde os anos 70, quando foi revelado numa dupla de comediantes (ver o seu "Kids Return").
Kitano entrelaça aqui os dois ramos de sua filmografia: o dos policiais críticos à Yakuza (a máfia japonesa) e o dos dramas existenciais. Os temas centrais são os mesmos: a corrupção da vida contemporânea, o abandono das tradições japonesas, o império da violência, a sombra da morte.
Em "Hana-bi", tudo se mistura com notável acento trágico. Um policial chamado Nishi sofre simultaneamente vários golpes do destino. A mulher descobre ter câncer terminal. Dois parceiros de trabalho, em sua ausência, são alvejados: um fica paraplégico, o outro morre.
Kitano estrelou, escreveu, dirigiu e ilustrou "Hana-bi".
Desenvolve-o ainda com uma sutileza e complexidade que torna todos seus filmes anteriores como que rascunhos deste. A narrativa continua elíptica, jogar com o tempo mantém-se como uma de suas marcas, mas a trama logo se oferece em foco.
"Keep Cool" ganha menos espaço, pois é um filme menor de Zhang Yimou. A curiosidade é vê-lo pela primeira vez retratar o frenesi da Pequim capitalista. Como sempre, a câmera de Yimou mimetiza o meio que enfoca. Não sossega um instante para reproduzir o ritmo febril da Nova China.
O ponto fraco é a trama: um jovem vendedor de livros convence um pesquisador mais velho a ajudá-lo a se vingar do "novo rico" com quem disputa a namorada. Ainda assim, Yimou teve de enfrentar a marcação cerrada dos censores chineses. Apesar das restrições, é uma outra China que Yimou nos desvenda.

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