São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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A importância dos centros de ciências

ERNST W. HAMBURGER

A visita do secretário de Educação dos EUA, Richard Riley, da comitiva do presidente Bill Clinton, à Estação Ciência nesta semana mostra a importância crescente que centros e museus de ciências adquirem na sociedade.
Em setembro, esteve aqui uma delegação científica oficial da França, resultante da visita do presidente Jacques Chirac ao Brasil no início do ano.
Em abril, participamos da reunião da Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia da América Latina e Caribe, na cidade de La Plata, Argentina, onde recebemos um prêmio internacional da Unesco.
A Estação Ciência é um centro de divulgação científica pertencente à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, em convênio com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Ela tem por objetivo transmitir correta e rapidamente os avanços das ciências para a população em geral, particularmente os jovens, com atenção especial para as pesquisas realizadas no Brasil.
É uma vitrine da universidade para a população e uma contribuição à educação no seu aspecto não-formal. Em suma, é uma realização de antigas aspirações dos líderes da ciência brasileira.
O acordo educacional e científico que os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos estão assinando contempla também a divulgação científica.
Nos EUA, como na França, há extensa rede de centros de ciências de ótima qualidade; no Brasil, essa atividade está em crescimento. Apesar do menor volume de produção, há bons materiais e boas idéias sendo gerados também aqui, de modo que deverá haver aproveitamento recíproco. Cito exemplos da Estação Ciência, mas há muitos em outras instituições.
Os videoclipes da série "Minuto Científico", co-produção TV Cultura/USP/Ministério da Cultura, apresentam sínteses de conceitos científicos, como os buracos negros e a Teoria da Relatividade, em apenas um minuto e têm sido elogiados e aplaudidos por telespectadores e em festivais nacionais e internacionais.
O projeto Clicar, em que meninos de rua são alfabetizados por educadoras experientes, com o uso de computadores para facilitar e valorizar o processo, está inspirando outros grupos a fazer trabalhos semelhantes. O programa "Hands on Universe", originário da Universidade da Califórnia, utiliza imagens astronômicas de planetas, estrelas e galáxias para enriquecer o ensino de ciências nas escolas.
A exposição rememorativa de Zumbi dos Palmares, preparada por professores do departamento de antropologia, já percorreu dezenas de instituições em vários Estados do Brasil.
O Programa de Educação Continuada, com a Secretaria da Educação do Estado, além de atualizar, apresenta novos recursos e abre horizontes aos professores de primeiro e segundo graus em cursos especiais.
Na Estação Ciência também se pesquisam e se desenvolvem formas de introduzir e comunicar teorias e princípios científicos e suas aplicações, a partir do estudo de seu surgimento histórico -como, por exemplo, as transformações de energia (termodinâmica) e a tecnologia do petróleo (Petrobrás).
O contato dos visitantes com o museu é auxiliado por dezenas de monitores, estudantes universitários que recebem treinamento. Para eles, esse trabalho constitui experiência marcante.
A importância de centros e museus de ciências para o progresso científico e tecnológico (e consequentemente econômico) do país é cada vez mais reconhecida. Esses centros, existentes há muitos anos nos países mais desenvolvidos, crescem agora também na América Latina. Mais de 50 deles estão organizando o projeto Red-Pop/BID, com vistas à obtenção de recursos financeiros para ampliação, integração e criação de novos centros.
No Brasil, está sendo criada uma associação de centros e museus de ciências. O objetivo é implantar um programa nacional de popularização das ciências, articulando desde o centenário museu Goeldi, em Belém, até o futuro museu de ciências da PUC de Porto Alegre, a ser inaugurado no próximo ano, para que sejam utilizados com maior eficácia os recursos existentes.
Exposições, vídeos, softwares e materiais didáticos produzidos em cada centro serão explorados também pelos outros, todos ligados entre si e com o exterior pela Internet.
O que se sente é que existe uma verdadeira fome pelo conhecimento. Dada a oportunidade, o povo, seja universitário, seja morador de rua, quer compreender melhor o mundo. Há necessidade de dezenas de Estações Ciência em uma metrópole como São Paulo e de centenas de instituições no Brasil.

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