São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997 |
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EUA temem guerra comercial americana
CLÓVIS ROSSI
"Os investidores começarão a planejar seu futuro na pressuposição de um hemisfério rachado em blocos comerciais separados", prevê Eizenstat. Consequências dessa suposta guerra comercial, para os EUA, sempre segundo Eizenstat: "Nossa participação no mercado (da América Latina) se deteriorará e estaria perdida a perspectiva de um dinâmico e unificado mercado hemisférico, com extraordinárias oportunidades para comerciantes, investidores e trabalhadores norte-americanos". Os alertas do subsecretário de Estado têm um único e óbvio objetivo: extrair do Congresso, o mais depressa possível, o chamado "fast track" (via rápida), mecanismo pelo qual o Legislativo autoriza o Executivo a negociar acordos comerciais que, depois, o Congresso aprova ou rejeita em bloco, mas não emenda. "Sem 'fast track', nenhum país vai negociar seriamente conosco", admite Eizenstat. Ele chegou a citar declaração de um não-identificado alto funcionário brasileiro ao jornal "The Wall Street", nos seguintes termos: "Sem 'fast track', sem negociações concretas". A eventual guerra de blocos comerciais nas Américas não é o único receio norte-americano. Eizenstat chegou a exagerar, ao dizer que "a União Européia pode muito bem ter um acordo de livre comércio com o Mercosul anos antes de a Alca ser completada". O subsecretário refere-se a informações de que UE e Mercosul querem uma zona de livre comércio até o fim de 1999, o que não é verdade. A data tentativa fixada pelos dois blocos é 2005, tal como a Alca. Eizenstat aponta riscos para os produtores dos EUA, sem a Alca, que soam como música aos ouvidos da diplomacia brasileira. "Sem o 'fast track' e sem a Alca, nossos exportadores enfrentarão uma série de mercados sub-regionais na América Latina aos quais seus competidores latinos terão melhor acesso". É essa exatamente a aposta do Brasil: fechar, antes da Alca, a Alcsa (Área de Livre Comércio Sul-Americana), envolvendo todos os países da América do Sul. Com tarifas de importação reduzidas ou zeradas para seus produtos e com a manutenção das barreiras atuais para a produção norte-americana, o Brasil estaria em condições privilegiadas para competir nesses mercados. Eizenstat põe até números nessa constatação: as tarifas de importação na América Latina caíram, na média, de 45% em meados dos anos 80 para os atuais 13%. Com a Alcsa, o Brasil passaria a exportar sem pagar tarifas alfandegárias ao menos para os países sul-americanos, ao passo que os EUA continuariam pagando os 13% mencionados por Eizenstat. Ou seja, não basta que os EUA façam concessões numa área e o Brasil em outra se uma anular a outra. É preciso que os dois lados ganhem. Por isso mesmo, o governo brasileiro insiste em que, antes de qualquer nova abertura da economia brasileira, os EUA derrubem as barreiras para importações provenientes do Brasil (aço, suco de laranja e uma infinidade de outros produtos). Texto Anterior: Natal sem Fome 97 tem início no Rio Próximo Texto: "Esta terra é sua terra", diz Menem Índice |
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