São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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FHC quer militar fora de ação direta contra tráfico

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A ROSÁRIO DO SUL

A discussão sobre a participação das Forças Armadas no combate ao narcotráfico levou ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso a desautorizar o ministro da Justiça, Iris Rezende, que no início da semana defendeu a participação direta de militares em ações repressivas contra traficantes.
"Não há nenhuma alteração na orientação do governo sobre esse tema. Não é próprio que as Forças Armadas entrem diretamente nisso, no combate ao narcotráfico", disse ontem o presidente, após encerramento do exercício militar conjunto entre Brasil, Argentina e Uruguai, em Rosário do Sul (RS).
FHC negou que nesse caso haja pontos de vista distintos entre os ministros da Justiça e os das pastas militares. "Não há divergência. Quem decide sou eu", afirmou.
Segundo o presidente, o "máximo" que pode ser feito é "um aprofundamento e aperfeiçoamento" do que acontece atualmente, com as Forças Armadas dando apoio logístico e de repasse de informações de inteligência. "Não no combate direto."
O ministro do Exército, Zenildo de Lucena, presente ao evento, foi enfático ao afirmar que as Forças Armadas discordam da proposta defendida por Iris Rezende.
"Pode ser um ponto de vista do ministro Iris, mas não é o ponto de vista das Forças Armadas", afirmou Lucena. "Primeiro porque temos o serviço militar obrigatório, e eu jamais colocaria meninos de 19 anos que recebo para o serviço militar para combater marginais e traficantes", completou.
Iris Rezende viajou com Lucena e o ministro-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Benedito Leonel, para assistir às manobras dos três exércitos, mas não conversou sobre o tema com eles.
O ministro da Justiça disse que, apesar da decisão do presidente e da posição das Forças Armadas, vai insistir para que os militares brasileiros ajam na repressão ao tráfico, ao menos na região de fronteira dos países produtores de droga.
"Tudo depende de estudos e de discussão. Estamos buscando a maior colaboração possível nessa luta que o país trava contra os traficantes e os contrabandistas de armas", afirmou. "Vamos continuar conversando."
Dentro da sua proposta de ampliar a discussão junto às Forças Armadas, Iris disse que vai se reunir na próxima semana, em Brasília, com o general Paulo Neves de Aquino, comandante de Operações Terrestres do Exército, responsável pela parte operacional da força.
A proposta de Iris coincide com o desejo dos Estados Unidos, que querem que os países latino-americanos voltem a ação de suas forças armadas para o combate aos crimes de fronteira.

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