São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Militante política é morta com 14 facadas

FLÁVIO ARANTES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A socióloga Leila Wright, 36, foi assassinada anteontem à noite em sua casa em Curitiba (PR) com 14 facadas. A polícia ainda não tem pistas do assassino nem formulou hipóteses para o motivo do crime.
Leila era militante do movimento Tortura Nunca Mais e filha de Paulo Wright, ex-militante da AP (Ação Popular) morto em 1973 no Doi-Codi, em São Paulo.
Ela também é sobrinha do pastor da Igreja Presbiteriana James Wright, um dos organizadores do livro "Brasil Nunca Mais".
O livro narra casos de tortura praticados durante a ditadura militar a partir de documentos dos próprios órgãos de repressão.
"Está todo mundo estarrecido, ninguém imagina o que aconteceu. A Leila não tinha inimigos, era uma pessoa meiga. A própria militância dela era pacífica", afirmou o coordenador do Tortura Nunca Mais no PR, Narciso Pires.
Leila levou as facadas depois de ser amarrada com fios elétricos. Foi encontrada caída na sala da casa, ao lado de uma mesa. Ela tinha perfurações no rosto, pescoço e costas. A polícia diz que não há sinais de arrombamento na casa.
Segundo o delegado Rubens Recalcatti, que atendeu o caso, Leila estava recebendo telefonemas anônimos havia 15 dias.
Em um deles, gravado pela secretária eletrônica, ouve-se a voz de um homem, que chama Leila de "maldita, vagabunda".
Após o assassinato, o autor do crime fugiu no carro de Leila, um Gol preto 97. Mais nada foi levado. O carro ainda não foi encontrado.
"Em tese, não foi um latrocínio (roubo seguido de assassinato ou vice-versa), porque ninguém dá 14 facadas em alguém só para roubar o carro", disse Recalcatti.
Segundo o delegado, vizinhos de Leila ouviram gritos por volta das 20h. "Eram gritos de dor."
Um desses vizinhos subiu no muro que separa sua casa da de Leila. Teria visto, pela fresta de uma das janelas, um homem de jaqueta preta andando pelo interior da casa. Minutos depois, ouviu o barulho do motor do carro da socióloga.
Quando chegou à calçada, o veículo já havia deixado a garagem. O motorista saiu em baixa velocidade e com os faróis desligados.

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