São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Organizadas não merecem confiança

WLADIMIR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Naquela noite de 13 de outubro de 1977, quando vencemos a Ponte Preta por 1 a 0 e conquistamos o Campeonato Paulista, depois de um jejum de mais de 22 anos, poderíamos jogar a noite inteira que não perderíamos.
Todos nós tínhamos consciência que a Ponte tinha mais conjunto, mas a harmonia entre os jogadores corintianos era tão grande que era muito claro que nós conseguiríamos vencer e ser campeões.
E é assim que eu vejo a atual situação do Corinthians.
É preciso o grupo vencer as diferenças internas para vencer o adversário.
Quando o time não consegue vencer o adversário, alguma coisa está errada dentro do grupo. Isso é muito claro no futebol.
Mas o Corinthians é assim mesmo. É preciso matar um leão a cada dia.
Você é campeão hoje e, amanhã, tem que se superar novamente.
Naquela noite de 77, todos achavam que os jogadores seriam imortalizados pela conquista. Só que, 15 dias depois, seis jogadores da equipe campeã já tinham sido demitidos.
O que mudou mesmo nesses 20 anos foi a torcida.
Naquela época, as torcidas uniformizadas tinham como chefes estudantes universitários.
Enfim, eram pessoas esclarecidas que se reuniam para ajudar o clube. Sempre de uma maneira positiva, cordial e construtiva.
Uma vez, em 79, eu dei uma declaração que não jogaria mais no Corinthians.
O Vicente Matheus, que era presidente do clube na época, tinha feito uma proposta para mim e depois não cumpriu.
Eu fiquei muito chateado e dei aquela declaração.
O pessoal da Gaviões da Fiel, também muito chateado, mandou um recado para mim depois da declaração: eles poderiam ouvir aquilo de qualquer jogador, menos de mim.
Eu peguei minha mulher, e nós fomos até a sede da torcida. Eu expliquei que aquilo não tinha nada a ver com o clube, mas com quem dirigia o clube. A gente se acertou, e era assim que as coisas se resolviam na época, no diálogo.
Na época, não era só uma relação de paixão e ódio. Era solidariedade, parceria.
Mesmo quando nós estávamos há 22 anos sem ganhar título, não houve uma atitude mais agressiva da torcida.
Ainda mais nesse nível que aconteceu anteontem: os torcedores fecharem uma estrada, obrigando o ônibus dos jogadores parar para que pudessem depredá-lo.
Hoje, vejo que houve uma clara deturpação do ideal nas organizadas.
Lamentável o ocorrido na madrugada de quarta-feira. Por mais descontentes que estejam os torcedores, essa era a última atitude a tomar.
A única maneira de manifestar contrariedade ao time é não ir ao estádio.
Essa seria a resposta à atual situação do time.
A violência só gera violência. Imagine se tivesse alguém armado no meio da confusão?
Logo agora que as torcidas organizadas estão negociando a volta aos estádios, confirmam que são grupos que não merecem a confiança dos poderes públicos.

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