São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997 |
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LIÇÃO DA FAVELA Em quase todas as vielas da favela do Tabor, na periferia de São Paulo, o esgoto corre a céu aberto. Os adultos se equilibram em tábuas para evitar os dejetos. As crianças, inconscientes do perigo, brincam na sujeira. Já vivendo praticamente à margem da vida econômica e oficial, os moradores do Tabor decidiram mais uma vez remediar a ausência do poder público e se cotizaram para construir, eles mesmos, a canalização do esgoto. Tal organização é uma manifestação impressionante de energia e de espírito comunitário de pessoas que têm uma carga enorme de problemas para resolver todos os dias -entre eles o mais básico, ter o que comer. Mas essa história tem também um traço deprimente, que aproxima as famílias do Tabor de milhões de outras pelo país: a exclusão social, a vida à margem do Estado, do mercado formal e até do informal. Na prática, são os sem-cidadania. Essa situação de precariedade fica patente de diversas maneiras. Cerca de 15 milhões de brasileiros não têm sequer documentos, o que já começa por dificultar sua vida legal, sua relação com o poder público e a obtenção de benefícios sociais. O saneamento básico ainda é um privilégio para os nordestinos do interior assim como para os moradores das periferias das grandes cidades, do Sudeste ou do Nordeste. Quase 17 milhões de brasileiros são indigentes; 1,2 milhão deles vivem no Estado de São Paulo, centro da riqueza do país. Para ficar bem claro: indigentes são aqueles que, se utilizarem todos os mínimos recursos de que talvez disponham, não terão o bastante para comer. Segundo estudo do Ipea, metade do que é arrecadado hoje com a CPMF seria suficiente para alimentar essas pessoas. A favela do Tabor é um microcosmo desse país de excluídos. Seus moradores vivem em barracos que ocupam um terreno particular; recorrem a gambiarras (ligações ilegais) para obter água e energia. Mas, a exemplo de algumas comunidades que também passam por privações, o Tabor mostra que não faltam aos excluídos nem energia nem capacidade. Próximo Texto: O FUTURO DO MERCOSUL Índice |
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