São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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Fazendeiros decidem reagir a invasões

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Proprietários rurais do norte do Espírito Santo, do sul da Bahia e do nordeste de Minas Gerais preparam uma reação ao avanço do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na região e prometem não aceitar mais invasões de terra.
A decisão foi tomada ontem numa manifestação que reuniu cerca de 400 fazendeiros dos três Estados em Mucurici (a 350 km de Vitória). Nos últimos dez dias, o MST invasão três fazendas no Espírito Santo. Em Mucurici, um sem-terra morreu, e dois ficaram feridos.
A Folha apurou que alguns proprietários, mais exaltados, querem fazer "justiça com as próprias mãos", ou seja, conter as invasões por conta própria, sem esperar as decisões judiciais.
"O pessoal decidiu que não haverá mais invasões aqui. A Justiça é lenta. Se tiver, a gente vai retirar, não vai deixar entrar", afirmou Expedito Pereira, 58, secretário do Sindicato Rural de Mucurici.
Indagado se a reação dos fazendeiros não aumentaria a violência na região, disse que "cada um vai se defender a seu modo". "Eles são organizados para atacar, então a gente é obrigado a defender."
Os fazendeiros divulgaram um manifesto para pedir o cumprimento das decisões judiciais no Espírito Santo. A Justiça capixaba tem acolhido os pedidos de reintegrações de posse feitos pelos proprietários de terras ocupadas.
O alvo das críticas dos fazendeiros do Espírito Santo é a lei que obriga a Polícia Militar a, antes de cumprir liminares de reintegração de posse, avisar aos órgãos de defesa dos direitos humanos e aguardar ordem do governo estadual para executar a decisão.
Para pressionar o governo, fazendeiros capixabas ameaçam iniciar um movimento de retirada de dinheiro do Banestes (Banco do Estado do Espírito Santo).
O presidente da Federação de Agricultura do Espírito Santo, Nider Barbosa, não acompanhou a reunião de ontem, mas disse que a entidade não recomenda o uso da violência. A retirada do dinheiro do Banestes, segundo ele, seria uma "medida extrema".
"A Justiça do Espírito Santo concedeu todas as reintegrações de posse que requisitamos. Para que violência? Sei que o pessoal está muito revoltado, pois ninguém pode admitir o ladrão na sua casa. O governo está incentivando a guerrilha rural", afirmou.
O governador em exercício do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), disse que o governo está tentando negociar para evitar a violência e que não acredita no cumprimento da ameaça dos fazendeiros.

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