São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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Parlamentar paga salário de sua filha na Venezuela

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Jorge Wilson (PMDB-RJ) manteve a sua filha Renata Paula, que morava na Venezuela, contratada pelo seu gabinete durante um ano. Com salário de R$ 1.100, ela passava até mais de três meses sem vir ao Brasil.
Wilson exonerou a filha na terça-feira, dia 14, quando a Folha comunicou a ele que havia descoberto a irregularidade. As normas da Câmara dos Deputados prevêem a contratação de secretários parlamentares apenas em Brasília ou nos Estados de origem dos deputados.
O deputado manteve contratados no gabinete mais dois filhos: Carla Andrea, com salário de R$ 3.200, e Jorge Wilson, com salário de R$ 1.000. Os dois trabalham no escritório do deputado no Rio de Janeiro. Somados os salários, a renda dos filhos era de R$ 5.300.
Ligado à Igreja Universal, Wilson também contratou um pastor da igreja, Milton, para trabalhar no seu gabinete. Ele afirma que o pastor presta assessoria em Brasília e no Rio.
O Ato 72/97 da Câmara diz, no seu artigo 2º, que os secretários parlamentares "terão exercício exclusivamente nos gabinetes parlamentares, em Brasília, ou em suas projeções nos Estados".
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), disse que vai "tomar conhecimento" do fato para depois "tomar as providências cabíveis".
Procurado pela Folha, Wilson afirmou, inicialmente, que não havia nenhuma irregularidade na contratação da filha Renata. Disse que ela foi contratada no início de 1995. "Ela casou há um ano e acompanhou o marido à Venezuela. Ela fica indo e vindo."
Questionado se a filha passava períodos superiores a um ou dois meses no exterior, respondeu: "Mais, mais, até quatro meses".
A reportagem perguntou se o deputado havia se informado junto à direção da Câmara sobre a legalidade desse tipo de contratação. "Se houver alguma ilegalidade, eu demito na hora", afirmou.
Wilson telefonou para o diretor-geral da Câmara, Adelmar Sabino, na presença do repórter. Disse que a filha passava "longos períodos" na Venezuela. Após alguns segundos em silêncio, avisou: "Pois então eu estou enviando agora a demissão dela, doutor Sabino". Os outros dois filhos continuam contratados.
Decidida a exoneração da filha, o deputado passou a pressionar o repórter, tentando impedir a publicação da reportagem: "Se você fizer a reportagem só comigo, é perseguição. Você sabe que há filhos de deputados contratados em outros gabinetes".
Wilson foi informado de que não se tratava de uma reportagem apenas sobre nepotismo (contratação de parentes), mas principalmente sobre o fato de o deputado manter um funcionário no exterior. "Se não gostar da reportagem, eu processo o jornal", disse.
Ele afirmou que a filha que mora na Venezuela fazia trabalhos eventuais para o gabinete, nas áreas de pesquisa e redação.

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